CICLO
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso


Para esta terceira e última parte do Ciclo que desde o princípio do ano nos guiou pelos caminhos da comédia – ironia não programada: que tenhamos escolhido tal tema para este ano de 2020... - afastamo-nos do “género” e aproximamo-nos do fenómeno que lhe está mais diretamente associado: o riso. É costume, e é toda a razão de ser do género cómico, que seja a plateia a rir-se do que acontece no ecrã. Alguns intérpretes fundamentais da comédia cinematográfica levaram ao extremo este princípio de evitar dar a ver o riso no ecrã – como Buster Keaton, o “homem que nunca ria”. O ponto de partida do último tomo deste Ciclo é uma interrogação: o que acontece no cinema quando é no ecrã que o riso se instala? Como é que, e para que é que, o cinema figurou o riso? Um princípio de resposta global a estas perguntas parte da constatação de que o riso – o espetáculo do riso – raramente dá vontade de rir, e é um fenómeno perfeitamente dissociável da comédia (da comédia enquanto género cinematográfico, talvez não tanto da “comédia” enquanto categoria narrativa). Mais: o espetáculo do riso é frequentemente algo de inquietante, cruel, obsceno, violento, como o manifestam a quantidade de vilões sorridentes que a história do cinema contém, e de que este Ciclo aproveita alguns dos mais significativos. Noutros casos, o riso é uma espécie de regresso à humanidade, manifestação de uma característica exclusiva da condição humana, em parte definidora (vê-se isso muito bem no NINOTCHKA de Lubitsch, mas também na forma como Cassavetes filmava o riso dos seus atores – aliás, como FACES mostra, o riso pode ser “performance”, “trabalho” de ator). Nesta coleção de risos, esgares e gargalhadas que apresentamos em dezembro os sentidos podem ser muitos, mas há, em quase todos os casos, uma “desconexão” entre causa e efeito. Como escreveu Georges Bataille: “rir do universo libertou-me. Recuso toda a tradução intelectual deste riso, porque isso seria o princípio da minha escravidão”.
 
 
28/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

He Who Gets Slapped
O Palhaço
de Victor Sjöström
Estados Unidos, 1924 - 86 min
 
29/12/2020, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

Ivan Grozny
Ivan, o Terrível
duração total da projeção: 177 min
30/12/2020, 17h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

Goodfellas
Tudo Bons Rapazes
de Martin Scorsese
Estados Unidos, 1990 - 144 min
30/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

Joker
Joker
de Todd Phillips
Estados Unidos, 2019 - 122 min
28/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
He Who Gets Slapped
O Palhaço
de Victor Sjöström
com Lon Chaney, Norma Shearer, John Gilbert
Estados Unidos, 1924 - 86 min
mudo, intertítulos em inglês legendados em português | M/12
Com acompanhamento musical ao piano por Filipe Raposo
O segundo filme americano de Victor Sjöström é a primeira grande produção da MGM, que adaptou uma peça russa situada no meio do circo, que fora um grande sucesso na Broadway. A história tem algumas semelhanças com a de DER BLAUE ENGEL, com o tema da decadência de um professor que se transforma em palhaço por causa de uma mulher. O riso (dos outros) como expiação e humilhação supremas. O filme não é exibido na Cinemateca desde 2015.

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29/12/2020, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
Ivan Grozny
Ivan, o Terrível
duração total da projeção: 177 min
legendado em português | M/12
entre a projeção das duas partes do filme há um intervalo de 20 minutos
IVAN GROZNY
Ivan, o Terrível 1ª parte
de Sergei M. Eisenstein
com Nikolai Tcherkassov, Serafina Birman, Ludmilla Tselikovskaya
URSS, 1943-45 - 95 min / legendado em português

IVAN GROZNY
Ivan, o Terrível 2ª parte
de Sergei M. Eisenstein
com Nikolai Tcherkassov, Serafina Birman, Ludmilla Tselikovskaya
URSS, 1943-45 - 82 min / legendado em português

O último filme de Eisenstein é uma das obras-primas absolutas de toda a história do cinema. Dividido em duas partes, o filme descreve o itinerário do czar, que vai da pureza adolescente até à mais absoluta tirania. A profundidade de foco, o uso das sombras e das luzes, a fusão entre a música de Prokofiev e os diálogos, criam um filme de indescritível beleza, que também é uma reflexão política. Ao grande teatro histórico encenado por Eisenstein, diretamente influenciado por figuras e arquétipos da dramaturgia clássica, não podia faltar um bobo, expressão de um sarcasmo “comentador”, também visível no delirante apogeu de IVAN, O TERRÍVEL, a breve e infernal sequência a cores, a única realizada por Eisenstein. Proibida por ordem pessoal de Estaline, que bem percebeu a analogia entre o czar e a sua pessoa, a segunda parte do filme só foi mostrada em público em 1958, dez anos depois da morte do realizador. A exibir em cópia digital.

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30/12/2020, 17h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
Goodfellas
Tudo Bons Rapazes
de Martin Scorsese
com Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Lorraine Bracco, Paul Sorvino
Estados Unidos, 1990 - 144 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M16
Problemas com a cópia em 35mm que recebemos de LA ROMANA (Luigi Zampa) impedem as duas exibições previstas deste filme no âmbito da rubrica O Que Quero Ver em dezembro. Em seu lugar, serão exibidos dois filmes cujas sessões tinham sido canceladas devido às restrições decorrentes da pandemia. Assim, no lugar da primeira passagem prevista de LA ROMANA vamos poder exibir no dia 11, às 15h00, ALENKA (Boris Barnet), programado no âmbito do Ciclo Só o Cinema, e no dia 30, às 17h00, será exibido GOODFELLAS (Martin Scorsese), incluído na terceira parte do Ciclo Revisitar os Grandes Géneros - a Comédia (parte III): o Riso.
Um dos mais conhecidos e importantes filmes de Martin Scorsese, de novo abordando um tema frequente na sua obra, o mundo marginal ou, mais precisamente, as organizações mafiosas num bairro de Brooklyn, numa adaptação do livro de Nicholas Pileggi e das memórias de um “arrependido”, Henry Hill. É um dos mais perfeitos carrocéis de Scorsese, que como noutras ocasiões (por exemplo, TAXI DRIVER), sinaliza a dissociação, a impossibilidade de acompanhar as personagens no plano moral, através do riso delas – sempre, ou quase sempre, obsceno, alarve. O filme não é apresentado na Cinemateca desde 2010. 

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30/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
Joker
Joker
de Todd Phillips
com Joaquin Phoenix, Zazie Beets, Robert de Niro
Estados Unidos, 2019 - 122 min
legendado em português | M/14
Desde que o universo dos super-heróis dos comics se tornou um dos principais territórios explorados pelo cinema americano de grande circulação que não havia um filme com uma abordagem tão original a esses pressupostos. Mais parábola social do que reiteração canónica dos trâmites do género, com um sentido político ambíguo que fez correr muita tinta, e uma relação direta – reconhecida no filme pela presença de Robert de Niro – com algum cinema americano dos anos setenta e oitenta, especialmente o de Scorsese, JOKER é também um filme que leva o riso de uma personagem à total dissociação: mero fenómeno físico, mecânico, irracional, que nada aparentemente – intelectualmente – justifica. Primeira exibição na Cinemateca.

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