CICLO
Do Fundo do Coração


Vai falar o coração. O órgão motor, biomecânico, cujo batimento sinaliza o tempo da vida de cada um de nós, mas também o objeto simbólico na diversidade das culturas humanas. O órgão que, na cultura ocidental, se enraizou como símbolo dos sentimentos, das emoções e das paixões, mas que tem também sido visto, entre muitas outras coisas, como centro de vida intuitiva e espiritual. É esse órgão e esse símbolo que nos vai falar como objeto de cinema, e aqui também, pelo menos, em duas grandes vertentes: aquela em que é assunto, ou tema, e aquela em que o próprio tema se converte em motor narrativo. Por um lado, a exaltação e a dor da paixão, ou a fragilidade e a vacilação da vida em resultado das suas patologias; por outro, a ameaça da sua paragem como dipositivo dramático, a contagem decrescente para uma morte anunciada ou pressentida enquanto alavanca narrativa, mecanismo de respiração do filme ou chave do seu desenho temporal. Mesmo enquanto tema ficcional (aquilo que, no cinema, pode tornar-se qualquer assunto da vida e das sociedades humanas), o que nos interessou foi então o lado potencialmente extremo e orgânico dele no ato cinematográfico, ou, dito de outro modo, a forma como pode também mexer com algumas das pulsões mais fundas que, há mais de um século, nos fazem desejar a fantasmagoria da sala escura. O ciclo foi um desafio lançado pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, que, em data quase coincidente com a da Cinemateca, comemora este ano o seu septuagésimo aniversário, e a cujo Presidente, Professor Doutor Victor Gil, desejamos agradecer o empenho e a colaboração prestada. Mais do que um desafio vago ou geral, este foi porém um desafio informado, que, em particular, envolveu o conhecimento cinematográfico de dois grandes amigos da Cinemateca, também eles médicos cardiologistas – Armando Bordalo e Sá e Pedro Matos. Exemplos de uma tradição de cinefilia extrema e não raro notabilíssima numa das áreas profissionais em que ela sempre existiu entre nós, as suas propostas e o seu entusiasmo não podiam deixar de sensibilizar uma casa que, além de tudo o mais, nasceu ela própria pelo sonho persistente de um médico, Manuel Félix Ribeiro, que de novo nos apraz evocar. Arrancando com os abismos da paixão – a grande obra de Francis Ford Coppola, a que fomos buscar o título neste caso dado pela distribuição portuguesa –, seguem-se-lhe nove outros filmes de tempos e registos variados, nos quais, mais ou menos centralmente, em tom de drama ou comédia e de forma mais realista ou mais fantasiosa, têm também lugar os riscos e as patologias do nosso órgão vital. Um mapa, entre muitos outros possíveis, desses riscos, ou dessas falhas, no coração do cinema.
 
 
20/12/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Fundo do Coração

As Good as it Gets
Melhor É Impossível
de James L. Brooks
Estados Unidos, 1997 - 139 min
 
20/12/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Fundo do Coração

em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Cardiologia
As Good as it Gets
Melhor É Impossível
de James L. Brooks
com Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear, Cuba Gooding Jr, Skeet Ulrich, Shirley Knight
Estados Unidos, 1997 - 139 min
legendado eletronicamente em português | M/12
É a história do mais singular triângulo que o cinema americano juntou: um escritor misantropo e egoísta (uma fabulosa criação de Nicholson), uma mãe solteira (Helen Hunt) e um artista gay (Greg Kinnear), numa viagem de mútuo reconhecimento, após o último ter sido selvaticamente agredido e hospitalizado. A apresentar em cópia digital.