CICLO
20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa


Jean-Louis Trintignant é o especialíssimo convidado da Cinemateca e da Festa do Cinema Francês em 2019. Numa rara incursão neste momento, o ator vem a Lisboa assinalando presença na homenagem que lhe é dedicada na Cinemateca e para apresentar o seu último trabalho: LES PLUS BELLES ANNÉES D’UNE VIE, realizado este ano por Claude Lelouch e coprotagonizado por Trintignant com Anouk Aimée. No seu vigésimo aniversário, a vertente retrospetiva da Festa do Cinema Francês presta ainda homenagem a Agnès Varda (1928-2019), a cuja obra a Cinemateca regressa evocando o seu singular trabalho. A Cinemateca associa-se também ao programa intitulado “20 Anos de Festa”, que propõe um percurso através de alguns dos muitos filmes que foram revelados aos espectadores portugueses pela Festa do Cinema Francês. Parte dos filmes programados nesta secção são apresentados nas nossas salas numa escolha da Cinemateca, sendo os demais, selecionados pelos programadores da Festa, apresentados no cinema São Jorge.

20 Anos de Festa
Ao longo dos seus 20 anos de existência, paralelamente a retrospetivas e homenagens, a Festa do Cinema Francês apresentou dezenas de filmes em estreia portuguesa, muitos dos quais viriam a ter distribuição comercial. Esta retrospetiva comemorativa reúne dez filmes de autor programados nas várias edições da Festa, a que acresce a apresentação das primeiras duas das oito partes da série “Viagens através do Cinema Francês” recentemente concluída por Bertrand Tavernier, que com ela voltou ao projeto do filme VIAGEM ATRAVÉS DO CINEMA FRANCÊS, mote do programa da retrospetiva da Cinemateca com a Festa em 2016. O critério de escolha dos títulos apresentados na Cinemateca contemplou o facto de serem obras ainda nunca apresentadas nas nossas salas. Ao lado de filmes de nomes célebres como Benoît Jacquot, Patrice Chéreau e Jean-Paul Rappeneau, podemos ver ou rever obras de realizadores de gerações mais novas, como Laurent Cantet e Anne Fontaine. A realizadora de COMMENT J’AI TUÉ MON PÈRE vai estar na Cinemateca a apresentar o seu filme e para um encontro com o público.

Agnès Varda
A importância e a envergadura de Agnès Varda são reconhecidas desde os anos cinquenta, quando se lançou como realizadora, num momento de grandes mudanças no cinema, depois de se tornar conhecida como fotógrafa. Ao longo dos anos, a Cinemateca apresentou a totalidade da obra de Varda, à exceção do último filme, a mostrar agora em ante-estreia nacional. Foram organizadas duas grandes retrospetivas, uma histórica, em 1993 (“Agnès Varda, os Filmes e as Fotografias”, acompanhada por uma exposição e um catálogo), e uma outra, há dez anos, no âmbito da Festa do Cinema Francês. Nas duas ocasiões, Agnès Varda esteve na Cinemateca. Como é evidente, os filmes de Varda, que formam um conjunto extremamente variado, têm pontuado diversos outros Ciclos ou rubricas organizados pela Cinemateca: as retrospetivas dedicadas à Nouvelle Vague e às Novas Vagas Europeias, o Ciclo consagrado ao cinema e à fotografia ou a rubrica “História Permanente do Cinema”. Embora a obra e a figura de Agnès Varda sempre tenham estado presentes, de modo regular, na nossa programação, pareceu-nos indispensável prestar homenagem a esta personalidade relevante e original, que faleceu no passado mês de março, voltando a algumas etapas marcantes da sua obra, autorretratos e ficções que permitem vislumbrar os muitos rostos de Agnès Varda. Começando por VARDA PAR AGNÈS, a sessão de abertura do Ciclo conta com a presença de Rosalie Varda-Demy, filha da realizadora.

Jean-Louis Trintignant
Jean-Louis Trintignant é um dos atores mais transversais e prolíficos do cinema sob o efeito da Nouvelle Vague, tendo atravessado cinematografias diversas de nomes importantes do cinema de autor europeu, sobretudo francês e italiano, sem perder de vista uma certa marca distintiva. Entre os italianos Bernardo Bertolucci, Dino Risi, Sergio Corbucci, Valerio Zurlini e os franceses Alain Robbe-Grillet, Claude Chabrol, Eric Rohmer, François Truffaut, Roger Vadim, entre o polaco Krzysztof Kieślowski e, nos anos mais recentes, o austríaco Michael Haneke, os papéis variam, mas há uma presença, uma cara, um olhar e uma voz que ficam. Não são raros os momentos em que o rosto de Trintignant serve de caixa de ressonância a uma angústia que faz retrair, silenciar ou imobilizar (o seu rosto espanta-se e enregela-se muitas vezes). O dilema teórico e metafísico que o assalta é jogado até à loucura. Trintignant é, muitas vezes, o homem que se combate internamente na procura, dentro do possível, de uma melhor versão de si mesmo e quiçá dos outros. Ele reage de modo tímido – assiste às circunstâncias e, ferido, derrotado, foge, esconde-se, conforma-se ou deixa-se guiar por... – muito mais do que age de forma heroica.
Aos 88 anos, Trintignant olha nos olhos o envelhecimento, tendo encontrado na parceria com Haneke um espaço para renovar todos esses conflitos que já identificamos no passado. Depois de AMOUR e HAPPY END, a estrada da vida desenha um “U” perfeito no seu mais recente filme. O novíssimo e inédito em Portugal LES PLUS BELLES ANNÉES D’UNE VIE, de Claude Lelouch, entra neste pequeno Ciclo de homenagem por vontade expressa do ator, atestando a absoluta vitalidade e generosidade do seu exemplo.


 
 
10/10/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

Ma Nuit Chez Maud
A Minha Noite em Casa de Maud
de Eric Rohmer
França, 1969 - 110 min
 
10/10/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo 20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

Cléo de 5 à 7
Duas Horas na Vida de uma Mulher
de Agnès Varda
França, 1962 - 85 min
10/10/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

Trois Couleurs: Rouge
Três Cores: Vermelho
de Krzysztof Kieślowski
Suíça, França, Polónia, 1994 - 97 min
10/10/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

Sans Toit ni Loi
Sem Eira Nem Beira
de Agnès Varda
França, 1985 - 105 min
11/10/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

L’Une Chante, l’Autre Pas
Uma Canta, a Outra Não
de Agnès Varda
França, 1977 - 120 min
10/10/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

em colaboração com o Institut Français du Portugal
Ma Nuit Chez Maud
A Minha Noite em Casa de Maud
de Eric Rohmer
com Jean-Louis Trintignant, Françoise Fabian, Marie-Christine Barrault, Antoine Vitez
França, 1969 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Jean-Louis Trintignant
Realizado a preto e branco, o que era muito minoritário em 1969, MA NUIT CHEZ MAUD é o terceiro dos contos morais e também o mais abstrato e austero. Rohmer representa o dualismo entre a retidão moral e a imprevisibilidade do humano, num confronto ético, mas também cinematográfico. O filme é ambientado em Clermont-Ferrand, terra natal do filósofo e matemático setecentista Blaise Pascal, cuja famosa teoria da “aposta” (simplificando muito: é melhor “apostar” que Deus existe) é discutida no filme por pessoas que refletem se estas teorias podem e devem ser aplicadas às suas próprias vidas. No centro do debate está o engenheiro de 34 anos Jean-Louis – o nome da personagem confunde-se com o do ator, Jean-Louis Trintignant, também porque esta será porventura a sua interpretação mais paradigmática. No sentido da loucura ou da santidade, o protagonista procura aplicar o catolicismo, qual receita de vida, às “apostas” românticas e sexuais. Foi o primeiro êxito comercial de Rohmer, que chegava então à casa dos 50 anos. A apresentar em cópia digital.
 
10/10/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

em colaboração com o Institut Français du Portugal
Cléo de 5 à 7
Duas Horas na Vida de uma Mulher
de Agnès Varda
com Corinne Marchand, Antoine Bourseiller, Dominique Davray, Dorothée Blank
França, 1962 - 85 min
legendado em português | M/12
Agnès Varda

Ficções
Talvez a obra-prima de Varda e o mais “Nouvelle Vague” de todos seus filmes. Narrado em tempo real (o tempo da narrativa é o da duração do filme), mostra-nos uma mulher que pensa ter um cancro e aguarda os resultados das análises clínicas que fez. Enquanto espera, encontra pessoas conhecidas e desconhecidas e atravessa a distância entre o obscurantismo e a lucidez sobre a sua própria identidade. E, como tantos filmes da Nouvelle Vague, CLÉO DE 5 À 7 também é um grande filme sobre Paris. A última passagem na Cinemateca data de há quatro anos. A apresentar em cópia digital.
 
10/10/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

em colaboração com o Institut Français du Portugal
Trois Couleurs: Rouge
Três Cores: Vermelho
de Krzysztof Kieślowski
com Irène Jacob, Jean-Louis Trintignant, Frédérique Feder, Jean-Pierre Lorit
Suíça, França, Polónia, 1994 - 97 min
legendado em português | M/12
Jean-Louis Trintignant
Há uma carga testamentária neste ROUGE que se pode verificar em duas dimensões simultâneas: foi a última longa-metragem para cinema rodada pelo mestre do cinema polaco e francês, Krzysztof Kieślowski; foi também o derradeiro ponto de convergência (e resolução?) da famosa “Trilogia das Cores”, que se baseou conceptualmente nas três cores da bandeira francesa e no lema da Revolução Francesa, ou seja, liberdade (BLEU), igualdade (BLANC) e fraternidade (ROUGE). Este filme, que levou Kieślowski a precipitar o anúncio do fim da sua carreira, conta a história de uma inusitada cumplicidade entre a perspicaz modelo Valentine (Irène Jacob) e um velho juiz (Jean-Louis Trintignant) “retirado do mundo” e com o estranho hábito de espiar a vida dos outros. A relação fraterna nasce no sentimento de piedade de Valentine, ela que, como escreveu Manuel Cintra Ferreira, “é a personagem ‘salvífica’ por excelência”, neste que é “o melhor dos filmes [da Trilogia] e um dos melhores de toda a filmografia de Kieślowski”. A apresentar em cópia digital.
 
10/10/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

em colaboração com o Institut Français du Portugal
Sans Toit ni Loi
Sem Eira Nem Beira
de Agnès Varda
com Sandrine Bonnaire, Macha Méril, Stéphane Freiss, Yolande Moreau
França, 1985 - 105 min
legendado em português | M/16
Agnès Varda

Ficções
SANS TOIT NI LOI baseia-se num fait divers, o caso de uma rapariga que apareceu morta (congelada) num vala, algures numa região rural francesa. Agnès Varda deixou-se intrigar pela história e, sobretudo, “pelos últimos meses da vida desta mulher” (como diz a própria cineasta na narração do filme). SANS TOIT NI LOI foi então concebido como uma espécie de filme-inquérito, articulando pura ficção com a informação que Varda recolheu na sua investigação pessoal. É um dos seus mais impressionantes filmes e Sandrine Bonnaire é magnífica a dar corpo à progressiva “des-humanização” da sua personagem. O filme não é programado na Cinemateca desde 2009 e será apresentado em cópia digital.
 
11/10/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
20ª Festa do Cinema Francês: Jean-Louis Trintignant | Agnès Varda | 20 Anos de Festa

em colaboração com o Institut Français du Portugal
L’Une Chante, l’Autre Pas
Uma Canta, a Outra Não
de Agnès Varda
com Valérie Mairesse, Thérèse Liotard, Ali Rafi, Robert Dadiès
França, 1977 - 120 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Agnès Varda

Ficções
O filme mostra as vidas paralelas de duas mulheres, alternadas com as lutas do movimento feminista dos anos sessenta e setenta. Conhecem-se quando uma ajuda a outra a fazer um aborto (que foi legalizado em França em 1974), perdem-se de vista e reencontram-se dez anos mais tarde, depois de seguirem caminhos muito diferentes. “Varda acaba por funcionar, atrás da câmara, como uma espécie de mão invisível, embora bem à mostra, que vem tecendo o destino de todos aqueles fios” (José Navarro de Andrade). O filme foi programado pela última vez na Cinemateca em 1993. A apresentar em cópia digital.