Rob Rombout nasceu em Amesterdão, mas fez da viagem uma forma de interrogar o mundo através do cinema. Com uma carreira enquanto documentarista que se inicia no final dos anos 1970, Rob Rombout produziu mais de três dezenas de filmes, que assumem diferentes posturas e abordagens, consoante os assuntos, as personagens e os contextos em que foram realizados. A sua obra inclui documentários de pendor político (L’HOMME QUI EN DISAIT TROP [1985], sobre o sindicalista Roger Vandermeiren), retratos biográficos (tanto refugiados como diplomatas), mas é composta maioritariamente por “cinema de viagem”.
Ao longo das últimas décadas, Rombout dividiu a sua vida entre Bruxelas e Lisboa, tendo percorrido meio mundo, sempre de câmara em punho. Desde as Ilhas Kerguelen, no extremo sul do Oceano Índico, em LE PIEGE DE KERGUELEN (2000) à China, em particular a cidade de Cantão, em CANTON, LA CHINOISE (2001), passando pelo Nordeste francês, LES PASSAGERS DE L’ALSACE (2002), ou os Montes Urais na cidade de Perm, na Rússia, em PERM-MISSION (1999). Até que, é a própria viagem que se torna o assunto dos seus filmes. Primeiro em NORD EXPRESS e TRANSLANTIC, QUEEN ELIZABETH 2, dois documentários sobre meios de transporte colossais que atravessam o globo terrestre. Depois, com QUEEN MARY 2, REINE DES MERS (2004) que descreve o processo de desenho, construção e operação daquele que seria o mais comprido, com maior capacidade e mais caro navio alguma vez contruído. Mais tarde, com esse projeto monumental de seu nome AMSTERDAM STORIES USA, filme de 6 horas que atravessa os Estados Unidos da América de lés a lés, em busca das localidades (entre metrópoles e aldeolas) com o nome de “Amesterdão”.
O nome deste Ciclo, “A mise en scène do real”, apropria-se do título do livro de Marc-Emmanuel Mélon, Rob Rombout, la mise en scène du réel, publicado em maio de 2022. Esse mesmo livro foi, depois, apresentado na Cinemateca, na Livraria Linha de Sombra, em outubro desse ano (com a leitura de José Bogalheiro), tendo sido exibido, a propósito, aquele que era o mais recente documentário do realizador, dedicado ao diplomata, professor e escritor de sucesso Robert van Gulik (1919-1967), ON THE TRACK OF ROBERT VAN GULIK (2016). Este livro parte da consciência – tornada evidente pelo cinema de Rob Rombout – de que todo o documentário tem elementos de ficção e toda a ficção tem uma dimensão documental, pelo que o trabalho deste realizador serve como forma de examinar as diferentes modalidades de encenação, organização e dramatização do mundo perante a câmara de filmar.
O Ciclo propõe uma breve mostra do seu trabalho enquanto realizador – exibindo a totalidade de AMSTERDAM STORIES USA no ano em que celebram os 750 anos da fundação da cidade de Amesterdão, e duas curtas/médias-metragens, em particular aquela que dedicou à banda portuguesa Madredeus, rodada nos Açores – em paralelo com o seu trabalho como professor (e fundador do mestrado conjunto DocNomads) e como fotógrafo “tardio”. Nesse sentido, propõe-se uma Aula Aberta sobre os métodos do documentário tais como os entende Rob Rombout, seguida de uma sessão composta por filmes realizados por alunos do DocNomads, orientados pelo cineasta. Tudo isto em diálogo com a exposição ON THE ROAD, que se impõe como uma súmula do seu olhar deambulante. As sessões serão precedidas de uma apresentação pelo realizador e convidados, em inglês.