CICLO
A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal


Comemora-se este ano o 35º aniversário do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, órgão do Ministério Público. A Cinemateca associa-se à efeméride organizando um programa sobre a investigação criminal contada pela ficção e pelo documentário, ou entre a ficção e o documentário, em sessões seguidas de conversas com especialistas nessa área. No âmbito deste Ciclo, Errol Morris supera em virtuosismo Francesco Rosi (realizador licenciado em Direito) para recriar o homicídio de um polícia em THE THIN BLUE LINE, sendo que, no caso do italiano, em CADAVERI ECCELLENTI, são os juízes os alvos da mão criminosa. Ao mesmo tempo, e noutra dupla, a dúvida de uma juíza também faz eco da intriga de um agente privado, se quisermos pôr em relação CAMARATE, obra de Luís Filipe Rocha (cineasta formado em Direito) que relançou o debate sobre “o JFK português”, com THE CONVERSATION, obra paranoica de Francis Ford Coppola realizada sob influência do “caso Watergate”. Magistrados, inspetores e advogados começam por procurar a verdade e terminam a tentar sair ilesos de verdadeiros “labirintos de mentiras” (o título mais recente deste Ciclo, que explora a pista de um potencial encobrimento, “de Estado”, relativamente ao genocídio judeu em Auschwitz). Os caminhos da verdade e da justiça são tortuosos, algo que este conjunto de filmes atesta de maneira eloquente, revelando outrossim a complexidade do trabalho do decisor em face do arguido, nesse “palco” de todos os dias que são os tribunais. Neste particular, os documentaristas Frederick Wiseman (outro cineasta deste grupo formado em Direito) e Raymond Depardon trazem para o Ciclo um olhar mais escrupuloso com registos de natureza observacional acerca de diferentes modos de administração da justiça e de auxílio à vítima: o díptico DOMESTIC VIOLENCE 1 e 2 mais DÉLITS FLAGRANTS e 10ÈME CHAMBRE, INSTANTS D’AUDIENCE são (courtroom) dramas da vida real filmados com o rigor da ficção. Nestes filmes, descemos à dimensão final, mais concreta, de uma investigação que nunca se define em termos simples. 
 
 
02/06/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Domestic Violence
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 2001 - 196 min
05/06/2023, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Domestic Violence 2
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 2002 - 160 min
07/06/2023, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Délits Flagrants
de Raymond Depardon
França, 1994 - 108 min
14/06/2023, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

10e Chambre – Instants d’Audience
de Raymond Depardon
França, 2004 - 102 min
16/06/2023, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

The Thin Blue Line
de Errol Morris
Estados Unidos, 1988 - 101 min
02/06/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Em colaboração com o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa
Domestic Violence
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 2001 - 196 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Sessão apresentada e seguida de comentário por Miguel Ângelo Carmo
Após um retrato quase poético sobre toda uma localidade, BELFAST, MAINE, Frederick Wiseman regressou ao coração do seu cinema, acrescentando mais um tomo à sua épica história da América “escrita” a partir de uma observação atenta da vida das instituições. O tema é a violência doméstica e como esta é encarada num centro de apoio a mulheres abusadas no estado da Florida – na estrondosa segunda parte, Wiseman concentra atenções na atividade de um tribunal que lida com processos do género. A câmara “mosca na parede” de Wiseman faz-nos aceder a várias histórias relatadas por mulheres que foram vítimas de violência doméstica, mas também perceber como funciona a instituição no seu todo. Mais um ecossistema olhado bem por dentro pela objetiva de um dos maiores documentaristas dos nossos tempos. Primeira apresentação na Cinemateca. 

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05/06/2023, 18h00 | Sala Luís de Pina
A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Em colaboração com o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa
Domestic Violence 2
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 2002 - 160 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Sessão apresentada e seguida de comentário por João Lázaro
Depois de se concentrar no dia-a-dia de uma associação de apoio às vítimas de violência doméstica (sobretudo mulheres), Wiseman parte para as ruas e, logo depois, “muda-se” para um tribunal na Florida com o propósito de mostrar como é que “lei e ordem” são administradas no que diz respeito a este problema candente na sociedade americana e não só. Formado em Direito, Wiseman já havia filmado em 1973 a atividade de um tribunal, no caso de família e menores, numa das suas obras-primas: JUVENILE COURT. Regressa agora a esse local para realizar uma obra que permite entendermos melhor o papel do decisor judicial como agente social “no fio da navalha”. Primeira apresentação na Cinemateca.  

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07/06/2023, 18h30 | Sala Luís de Pina
A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Em colaboração com o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa
Délits Flagrants
de Raymond Depardon
França, 1994 - 108 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Sessão apresentada e seguida de comentário por Carlos Casimiro Nunes
Na linha do trabalho de Raymond Depardon de filmar as grandes instituições, DÉLITS FLAGRANTS mostra-nos, com uma liberdade e um rigor muito assinaláveis, o funcionamento do sistema que rege a fase da investigação das pessoas presas em Paris em “flagrante delito”. Trabalho desenvolvido durante anos só para a obtenção de autorização excecional para filmar ali, nos gabinetes da 8ª secção do Palais de Justice em Paris, sendo que Depardon obteve ainda anuência de dezenas de detidos para serem filmados durante o interrogatório mas somente 14 deles chegaram à montagem final. “Nenhum dos réus parece saber que já estão julgados e que o tribunal vai apenas avalizar o que já foi decidido. Neste sentido, DÉLITS FLAGRANTS é um filme que causa um arrepio.” (Antonio Rodrigues). A única passagem do filme na Cinemateca aconteceu em 2001. A exibir em cópia digital. 

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14/06/2023, 18h30 | Sala Luís de Pina
A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Em colaboração com o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa
10e Chambre – Instants d’Audience
de Raymond Depardon
França, 2004 - 102 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Sessão apresentada e seguida de comentário por Álvaro Laborinho Lúcio
Uma espécie de sequela (ainda que perfeitamente autónoma) de DÉLITS FLAGRANTS, trata-se de um filme igualmente minimalista, de registo observacional e obedecendo a um modelo simples (ainda que engenhoso) de campo-contra-campo, acerca dos rituais judiciais e, na pré-produção, envolvendo várias dezenas de arguidos. Depardon escolheu uma dúzia de casos – o de um detido por condução sob o efeito do álcool até a um caso de imigração ilegal – fazendo deste documentário um estudo absorvente sobre a natureza humana, ao permitir que concentremos toda a nossa atenção nos rituais, bem como nas expressões de cada um dos acusados presentes à mesma juíza, a grande protagonista deste filme: Michèle Bernard-Raquin. Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital. 

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16/06/2023, 18h30 | Sala Luís de Pina
A Justiça no Cinema: Os Sinuosos Caminhos da Investigação Criminal

Em colaboração com o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa
The Thin Blue Line
de Errol Morris
Estados Unidos, 1988 - 101 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Sessão apresentada e seguida de comentário por Paulo Sá e Cunha
Um dos filmes que primeiro atraíram a atenção sobre Errol Morris, THE THIN BLUE LINE resultou de um conjunto de entrevistas gravadas com um homem condenado à morte, considerado culpado de assassínio. O estilo elaborado de Morris, que procede a reconstituições da cena do crime, contrasta com a secura dos segmentos de entrevista propriamente dita. Um filme poderosíssimo – sobre a pena de morte e sobre o sistema judicial americano – e extraordinariamente polémico – a sua mistura entre um certo cinema verista e o mais virtuoso aparato ficcional levou a que a Academia dos Oscares recusasse a sua nomeação para o Oscar de Melhor Documentário. A exibir em cópia digital. 

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