CICLO
Double Bill


Todos os sábados, celebram-se casamentos improváveis entre filmes de períodos, realizadores e com “assinaturas” estilísticas diferentes. Disparates, mal-entendidos e equívocos de bradar aos céus. Títulos iguais ou muito parecidos geram erros de comunicação ou impressionantes saltos no tempo e no espaço: podemos ouvir falar de uma “história simples” e nos precipitarmos para o Iowa, nas profundezas dos Estados Unidos da América, ao invés de imaginarmos a dolorosa luta diária de uma mãe e de uma filha por um teto, em Paris. Podemos seguir pela correnteza de um rio a achar que o filme é mudo, um dos mais belos, ainda que inacabados, de Borzage, mas na realidade tratar-se de uma perturbante história de um rapaz em Taiwan a braços com uma insuportável dor no pescoço de que não se consegue livrar. Pode ser que o rei de Nova Iorque seja um lorde da droga interpretado por Christopher Walken ou o monarca de um país fictício em visita à Big Apple encarnado por Charles Chaplin, em modo de denúncia à hipocrisia do McCarthismo. E, depois, o mesmíssimo nome de um homem – real – e de uma personagem – fictícia – aponta para percursos diferentes (porventura tornados opostos) no quadro maior do cinema português: JAIME e JAIME, de António Reis e de António-Pedro Vasconcelos, respetivamente.
 
 
05/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Jaime | Jaime
duração total da projeção: 146 minutos | M/12
 
12/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The River | He Liu
duração total da projeção: 172 minutos
19/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

A King in New York | King of New York
duração total da projeção: 207 minutos
26/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Une Simple Histoire | The Straight Story
duração total da projeção: 174 minutos
05/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Jaime | Jaime
duração total da projeção: 146 minutos | M/12
Entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
JAIME
de António Reis
Portugal, 1974 – 35 min

JAIME
de António-Pedro Vasconcelos
com Saul Fonseca, Fernanda Serrano, Joaquim Leitão, Nicolau Breyner
Portugal, 1999 – 111 min

Um dos primeiros trabalhos do poeta do cinema português, António Reis, JAIME, documentário sobre o falecido doente psiquiátrico – também pintor – Jaime Fernandes, irrompeu na nossa cinematografia como um gesto único de solidez e força instintiva. O máximo de originalidade com o máximo de modernidade. Ambientado na cidade do Porto, nos bairros populares próximos da Ribeira, JAIME – o único filme realizado para cinema de António-Pedro Vasconcelos durante os anos 90 – é uma incursão num registo evocativo do neorrealismo, cujo princípio do argumento – um rapaz acalenta a esperança de recuperar a mota roubada do pai – cita um dos clássicos do género, LADRI DI BICICLETTE.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de JAIME, de António Reis, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de JAIME, de António-Pedro Vasconcelos, aqui
 
12/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The River | He Liu
duração total da projeção: 172 minutos
legendados eletronicamente em português | M/18
Entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
THE RIVER
de Frank Borzage
com Charles Farrell, Mary Duncan
Estados Unidos, 1929 – 57 min
com acompanhamento ao piano por Daniel Schevtz

HE LIU
O Rio
de Tsai Ming-liang
com Lee Kang-sheng Lee, Miao Tien, Lu Hsiao-Ling, Chen Shiang-Chyl
Taiwan, 1997 – 115 min

“Entalado” entre duas das obras-primas maiores de Borzage (e de todo o cinema mudo), STREET ANGEL e LUCKY STAR, ambas com Janet Gaynor e Charles Farrell, THE RIVER mantém a estrela masculina mas põe-na a contracenar com Mary Duncan. O destino do filme foi funesto como os tons com que é pintado o romance no filme: mal recebido pelo público e pela crítica (salvo, pelo menos, a francesa), acabou por se tornar um dos filmes inacabados mais amados da História: “Fica-nos uma dor de alma, e uma fervorosa prece para que um dia se possa ver, em todo o seu fulgor, este filme admirável, este poema louco de amor ou de amor louco, objeto único e irrepetível da história do cinema”, escreveu Manuel Cintra Ferreira. Urso de Prata no Festival de Berlim de 1997, HE LIU/O RIO foi o primeiro filme de Tsai Ming-liang a estrear-se comercialmente em Portugal. O lema desta história, atravessada pelas dores do corpo e da alma, é este: “A vida é como um rio, há sempre algum recanto escuro, profundo e pantanoso”. Filme sobre os percursos paralelos de três membros de uma família (um deles a braços com uma excruciante dor no pescoço) até ao dilúvio final, depois prolongado em THE HOLE, o título seguinte de Tsai. HE LIU não passa na Cinemateca desde 2001.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de THE RIVER, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de HE LIU, aqui
 
19/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
A King in New York | King of New York
duração total da projeção: 207 minutos
legendados eletronicamente em português | M/18
Entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
A KING IN NEW YORK
Um Rei em Nova Iorque
de Charles Chaplin
com Charles Chaplin, Dawn Addams, Oliver Johnston
Reino Unido, Estados Unidos, 1957 – 104 min

KING OF NEW YORK
O Rei de Nova Iorque
de Abel Ferrara
com Christopher Walken, David Caruso, Laurence Fishburne, Wesley Snipes, Steve Buscemi
Estados Unidos, 1990 – 103 min

Longe da personagem de Charlot, abandonada em 1936, em MODERN TIMES, Chaplin, em A KING IN NEW YORK, ajusta contas com os Estados Unidos, cinco anos depois de ter sido praticamente expulso do país. Na sequência de um golpe de Estado, o rei de um país fictício da Europa Central foge para Nova Iorque com boa parte do tesouro do seu país. Uma vez chegado, vê-se envolvido em aspetos da cultura americana com os quais não contava, como o culto do dinheiro e da forma física. Porventura a obra-prima de Ferrara, KING OF NEW YORK é um filme noctívago, de “vampiros”, sobre o mundo do crime e da droga, centrado na personagem de Frank White, um Christopher Walken em ponto de rebuçado, procurando – como é habitual nas personagens de Ferrara – alguma forma de redenção. Primeira exibição na Cinemateca. A apresentar em cópia digital.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de A KING IN NEW YORK, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de KING OF NEW YORK, aqui
26/11/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Une Simple Histoire | The Straight Story
duração total da projeção: 174 minutos
legendados eletronicamente em português | M/12
Entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
UNE SIMPLE HISTOIRE
de Marcel Hanoun
com Raymond Jourdan, Gilette Barbier, Madeleine Marion
França, 1959 – 64 min

THE STRAIGHT STORY
Uma História Simples
de David Lynch
com Richard Farnsworth, Sissy Spacek, Harry Dean Stanton, Jane Galloway, Joseph A. Carpenter
Estados Unidos, 1999 – 110 min

THE STRAIGHT STORY é a história real de um velho que resolve visitar o irmão com quem estava desavindo há vários anos e que se encontra doente, vivendo a algumas centenas de quilómetros. A viagem é feita num corta-relva, e a sua lentidão proporciona ao viajante uma série de encontros, que fazem deste filme um dos melhores exemplos da “americana”, na linha dos clássicos do género feitos por John Ford, D. W. Griffith, Henry King e Henry Hathaway. Conto, que despedaça o coração incauto, sobre uma mãe e filha à deriva por Paris, tentando arranjar um teto e um emprego que lhes permita simplesmente (sobre)viver. Primeira obra que foi comparada (justa e injustamente) com Bresson, mas que revela já o estilo clarividente e pugnaz que viria a caracterizar o cinema de Marcel Hanoun. Para Jonathan Rosenbaum, em UNE SIMPLE HISTOIRE, “o tratamento formal dado a um assunto neorrrealista está entre os mais originais do cinema moderno”. Primeira apresentação na Cinemateca.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de UNE SIMPLE HISTOIRE, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de THE STRAIGHT STORY, aqui