CICLO
Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)


“Derivado do classicismo, o pós-classicismo (ou neoclassicismo) define uma maneira de reativar certas formas do cinema clássico, mas armado de uma consciência do tempo (e dos filmes) do passado”, escreveu Jean-Baptiste Thoret em Cinéma contemporain, mode d’emploi. Esta terceira e última etapa da viagem pelo western traz-nos à contemporaneidade, quando as marcas características do género se diluem no tecido dos filmes, suas histórias e personagens.
O cowboy torna-se urbano, noctívago, sentimental, deslocado ou uma assombração. A paisagem também muda de tom e descaracteriza-se. Mas se há realizadores que aproveitam o passado glorioso do western clássico para o transformarem num puro conceito, outros mantêm-se fiéis aos seus códigos, tentando reabilitar o interesse por aquele que foi o mais popular dos géneros fílmicos. Kevin Costner, Clint Eastwood e, em grau menor, John Sayles são aqueles que insistem nas marcas tradicionais do género, ao passo que realizadores e, acima de tudo, realizadoras tais como as americanas Barbara Loden e Kelly Reichardt e a chinesa Chloé Zhao, mas também um cineasta nascido em Taiwan como Ang Lee, usam o faroeste para lhes conferir uma perspetiva renovada, marcadamente feminina ou gay. Zacharias Kunuk, um inuíte, chega mesmo a realizar um western gelado falado na sua língua nativa e que “refaz, subvertendo” ou “subverte, refazendo” a mitologia clássica fordiana. Os realizadores-investigadores académicos Ilisa Barbash e Lucien Castaing-Taylor foram ainda mais longe em SWEETGRASS e testaram a possibilidade de se filmar a paisagem do faroeste sob a perspetiva dos animais. Quentin Tarantino é um “continente à parte” nesta história, já que o seu conhecimento enciclopédico da iconografia e mitologia westernianas atravessa grande parte da sua filmografia, mas mesmo assim nenhum dos seus filmes é sempre e somente “só uma coisa”, concatenando múltiplas referências e marcas autorais de realizadores de vários períodos históricos e proveniências geográficas. A sua perspetiva é, precisamente e voltando às palavras de Thoret, a do tempo e dos filmes do passado, sobretudo os mais escondidos e “pulposos”.
O western deixa de ser “um género” e afirma-se como um “hiper-género”, quer dizer, elemento que perpassa géneros ou um adjetivo em vez de um substantivo, deixando de haver propriamente westerns mas somente filmes mais ou menos westernianos: desde o drama realista da Nova Hollywood, como MIDNIGHT COWBOY, até ao filme de super-heróis, o crepuscular LOGAN, realizado por um fã de westerns, James Mangold, passando pelo cinema de ação e aventuras no espaço sideral, em STAR WARS, pela animação – Woody, o boneco favorito de Andy em TOY STORY, é um cowboy –, pela ficção científica de horror ou o western político do Planeta Vermelho de John Carpenter, GHOSTS OF MARS, e pelo já referido, a propósito de SWEETGRASS, cinema de estilo documental. Estes e muitos outros filmes testam a elasticidade de um género que se converteu num “pós-género”, numa forma de consciência ou de “derme” cinematográfica que (ainda) opera, de maneira mais ou menos encriptada, sobre a evolução da linguagem do cinema contemporâneo, continuando a dar-lhe corpo.
 
 
08/09/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)

Django Unchained
Django Libertado
de Quentin Tarantino
Estados Unidos, 2012 - 165 min
 
09/09/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)

The Hateful Eight
Os Oito Odiados
de Quentin Tarantino
Estados Unidos, 2015 - 168 min
09/09/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)

The Rider
de Chloé Zhao
Estados Unidos, 2017 - 104 min
10/09/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)

Midnight Cowboy
O Cowboy da Meia Noite
de John Schlesinger
Estados Unidos, 1969 - 113 min
10/09/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)

The Electric Horseman
O Cowboy Eléctrico
de Sydney Pollack
Estados Unidos, 1979 - 120 min
08/09/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)
Django Unchained
Django Libertado
de Quentin Tarantino
com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson
Estados Unidos, 2012 - 165 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Primeiro western assumido por Quentin Tarantino que é uma homenagem a Sergio Corbucci e ao herói Django, originalmente interpretado por Franco Nero (que tem aqui um cameo). É também um piscar de olho a westerns clássicos, de vincada consciência histórica e política, que “ousaram” atacar a questão do racismo, nomeadamente BAND OF ANGELS de Raoul Walsh, com Sidney Poitier, e SERGEANT RUTLEDGE, de John Ford, com Woody Strode. Também por via da questão racial (veja-se a personagem “inenarrável” de Samuel L. Jackson neste filme), Tarantino entabula um “diálogo contraditório, fascinado e indignado com a História e os seus fantasmas” (Vasco Câmara, Público). Primeira exibição na Cinemateca.

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09/09/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)
The Hateful Eight
Os Oito Odiados
de Quentin Tarantino
com Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Bruce Dern
Estados Unidos, 2015 - 168 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Se John Ford conseguiu concentrar quase todas as personagens arquetípicas do western tradicional dentro de uma caravana, em STAGECOACH, Tarantino propôs-se reabrir as feridas provocadas pela Guerra Civil Americana praticamente sem sair de uma estalagem. Ao oitavo título, neste seu segundo western assumido e o primeiro gelado, à laia de IL GRANDE SILENZIO, do seu herói Sergio Corbucci, lançou uma convocatória a 8 personagens mais ou menos “odiosas” para se travarem de razões. “Filme de câmara”, altamente teatral, que traduz um modo esfuziante de lidar com a História, qual “mar de ressentimentos não-resolvidos”: “a maneira como Tarantino faz sentir o espaço é brilhante: a sensação (para o espectador) é quase física” (Luís Miguel Oliveira, Público). Primeira exibição na Cinemateca.


A sessão repete no dia 16 às 19h30, na Sala Luís de Pina

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09/09/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
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The Rider
de Chloé Zhao
com Brady Jandreau, Lilly Jandreau, Tim Jandreau, Lane Scott
Estados Unidos, 2017 - 104 min
legendado eletronicamente em português | M/14
Para a sua segunda longa-metragem, a realizadora chinesa radicada nos Estados Unidos Chloé Zhao partiu de um argumento arrancado da vida, mais concretamente, da experiência da estrela de rodeos Brady Jandreau, após um grave acidente de equitação o ter deixado com lesões cerebrais incapacitantes – o médico diz que ele não poderá montar mais. É um filme preso à pele e ao corpo do seu ator principal interpretando-se a si mesmo, tentando superar as suas limitações. Zhao revela uma atenção e uma sensibilidade especiais para dar a ver e a sentir a paisagem interior da sua personagem, algo que desenvolverá no filme seguinte, o multipremiado NOMADLAND, obra vencedora de três Oscars: Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Realizadora, primeira distinção deste tipo atribuída a uma mulher asiática. Primeira exibição na Cinemateca.

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10/09/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)
Midnight Cowboy
O Cowboy da Meia Noite
de John Schlesinger
com Dustin Hoffman, Jon Voight, Sylvia Miles
Estados Unidos, 1969 - 113 min
legendado eletronicamente em português | M/16
O inglês John Schlesinger realizou um dos filmes mais emblemáticos da “mudança de tempos” no cinema americano, em finais da década de 60. Violento e ostensivamente “adulto”, primeiro título com a classificação “X” (filme para adultos) a ganhar o Oscar de Melhor Filme, MIDNIGHT COWBOY conta uma história ambientada nos meios da prostituição masculina de luxo em Nova Iorque. Catapultou Jon Voight para o estrelato na pele de um cowboy-prostituto perdido no tempo e no espaço: “cowboy texano transplantado para a noite nova-iorquina, incorpora muito bem o próprio movimento retratado pelo filme, gerado por um desencanto que se segue à tomada de consciência de uma perda definitiva da inocência” (Luís Miguel Oliveira, Folha de Sala). Não passa na Cinemateca desde 2018, no âmbito do Ciclo “American Way of Life: Vidas em Crise”.

A sessão repete no dia 13 às 21h30, na Sala M. Félix Ribeiro

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10/09/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Revisitar Os Grandes Géneros: Era Uma Vez… O Western (Parte 3 – Conclusão)
The Electric Horseman
O Cowboy Eléctrico
de Sydney Pollack
com Robert Redford, Jane Fonda, Valerie Perrine, Willie Nelson, John Saxon
Estados Unidos, 1979 - 120 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma crítica à publicidade alienante, e celebração da liberdade e individualismo, através da história de um antigo campeão de rodeo que se dedica a espetáculos publicitários, coberto por um fato luminoso, e que se revolta fugindo com o cavalo que deve montar. “THE ELECTRIC HORSEMAN é, por isso, uma bela história de amor entre duas Américas: aquela que deseja ser livre, na sua paisagem, (...) e, por outro lado, aquela que vive na sua própria ilha e cujo cultivo intelectual, mediático ou cultural acaba por desprezar (...)”, escreve Francisco Valente na respetiva Folha de Sala, publicada em 2018, na última vez que o filme passou na Cinemateca, no âmbito do Ciclo “American Way of Life: Vidas em Crise”.

A sessão repete no dia 15 às 16h30, na Sala M. Félix Ribeiro

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