10/04/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Aparentemente nos antípodas das histórias de homens deslocados em ambientes exóticos, o conto aqui adaptado,
Return (publicado em 1898 na primeira coletânea de histórias de Conrad
Tales of Unrest) é a base deste impressionante naufrágio íntimo, em que a vida de um casal se desmorona até ao completo esvaziamento. Ao entrar na sua casa parisiense, um burguês rico do início do século XX depara com uma carta da mulher em que esta o informa que partiu com outro homem, mas, quando está ainda sob o choque imediato da notícia, vê-a afinal regressar, a uma “casa” e a uma “vida” que, nesse intervalo de tempo, deixaram de ser reconstruíveis. Fascinado pelo conto, Chéreau trabalhou-o em filigrana com a sua coargumentista Anne-Louise Trividic, reequilibrando o peso da mulher, que, de um ser forte mas quase silencioso, passa a ser também alguém que
se exprime (perante a criada) através de diálogos que, como sublinhado pelo realizador, são na verdade
monólogos. No filme são inseridas frases
escritas, e alterna-se cor e preto e branco, sem que tenhamos de ver nesta alternância um “código de significação” de uma coisa e outra, antes
passagens, que são sempre clivagens interiores abruptas na sequência. Um fluxo de avanços, recuos, silêncios ou volte-faces, que só se sustém no último segundo, conduzido por um enorme realizador-encenador (que não tem de disfarçar o seu domínio “teatral” ou “operático”) em cumplicidade com dois atores poderosos – Isabelle Huppert e Pascal Greggory.
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