CICLO
Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido


O imenso prestígio dos grandes cineastas italianos que surgiram ou se impuseram no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial (Rossellini, Visconti, Fellini, Antonioni) pôs um pouco à sombra o nome de vários realizadores de valor, entre os quais Antonio Pietrangeli (1919-68). Uma prova disso é que o primeiro livro dedicado ao seu trabalho só foi publicado em 1987, quase vinte anos depois da sua morte. No entanto, como observou o crítico Antonio Maraldi, “não se trata de um daqueles realizadores que devem ser reavaliados devido a algumas virtudes artesanais, mas de um autor”. O seu trajeto pessoal espelha o percurso do cinema italiano do período que vai de inícios dos anos 50 a meados dos 60. Nascido em Roma, Pietrangeli iniciou em julho de 1940 a atividade de crítico no diário Il Lavoro Fascista, passando no ano seguinte a escrever na prestigiosa Bianco e Nero, onde participa da batalha por uma “renovação realista” do cinema italiano. Entre 1942 e a sua estreia na realização nove anos depois, colaborou na redação do argumento de diversos filmes, entre outros, de Luchino Visconti, Alessandro Blasetti, Pietro Germi, Alberto Lattuada e Roberto Rossellini. Para voltarmos a citar Antonio Maraldi, o seu percurso de realizador tem início “na matriz neo-realista e levou-o, pelas suas escolhas estilísticas e temáticas, a ser uma das maiores personalidades da comédia à italiana. Paradoxalmente o seu filme de estreia, IL SOLE NEGLI OCCHI, de 1953, ajuda a encerrar um capítulo iniciado dez anos antes. Pietrangeli passa à realização precisamente no momento em que a ideia de cinema elaborada há tanto tempo entrava numa crise irreversível. O êxito naquele ano de PÃO, AMOR E FANTASIA, de Luigi Comencini, foi mais um sinal do impasse do modelo neo-realista e da conceção do cinema que o acompanha. A divergência que nascera no imediato pós-guerra entre a experiência neo-realista e o cinema de consumo estava a exaurir-se devido ao desaparecimento de uma das partes em litígio. Um cinema concebido como uma síntese de pesquisa artística e elemento numa batalha político-cultural implicava a remoção da estrutura industrial, do produto inserido num ciclo de mercado. Resultou vitorioso deste confronto o cinema que se formara como produto comercial de espetáculo, construído em função de um público específico”. Acrescente-se que à medida que a Itália era reconstruída e se tornava próspera (falava-se em boom e em “milagre económico”), o neo-realismo passara a espelhar cada vez menos a realidade social, precisamente aquilo que o fizera nascer, em oposição ao cinema italiano dos anos 30, muitas vezes de excelente qualidade, porém sem arestas e certamente pouco “realista” em relação às realidades sociais. Na primeira metade dos anos 50, para recuperar largas fatias do público atraído pelo cinema americano que invadia o mercado, surge, observa Paolo Bertetto, “um cinema médio, enxertado na realidade social, que não rompe de modo algum com o passado, mas recompõe estruturas e modelos”. É então que se consolidam e são atualizados géneros tradicionais, como o melodrama, em que sobressaiu Raffaello Matarazzo, e a comédia, de que Pietrangeli foi um nome central. Uma das características das suas comédias, a importância de personagens femininas independentes, longe de um contexto camponês e patriarcal é, na verdade, típica de toda a comédia italiana dos anos 50, mas o interesse pelas personagens femininas será levado mais longe por ele do que por outros ilustres autores de comédias italianas no período, como Mario Monicelli, Dino Risi e Luigi Comencini, e é um dos elementos que define a sua obra. Pietrangeli morreu acidentalmente, por afogamento, durante a rodagem de COME, QUANDO, PERCHÉ, que foi completado por Valerio Zurlini. Os seus filmes, solidamente estruturados, reúnem elementos dramáticos e irónicos, nunca se limitam a um simples jogo cómico e amadurecem à medida que a sua obra progride, como poderão constatar os espectadores da Cinemateca.
 
 
03/04/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

Adua e Le Compagne
de Antonio Pietrangeli
Itália, 1960 - 105 min
 
04/04/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

Fantasmi A Roma
Fantasmas em Roma
de Antonio Pietrangeli
Itália, 1961 - 100 min
04/04/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

Adua e Le Compagne
de Antonio Pietrangeli
Itália, 1960 - 105 min
04/04/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

Amori di Mezzo Secolo
de Antonio Pietrangeli, Glauco Pellegrini, Pietro Germi, Mario Chiari, Roberto Rossellini, Vinicio Marinucci
Itália, 1954 - 94 min
05/04/2025, 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

La Visita
Anúncio de Casamento
de Antonio Pietrangeli
Itália, 1963 - 105 min
03/04/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

em colaboração com a 18ª Festa do Cinema Italiano
Adua e Le Compagne
de Antonio Pietrangeli
com Simone Signoret, Marcello Mastroianni, Sandra Milo, Emmanuelle Riva
Itália, 1960 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12
ADUE E LE COMPAGNE é um dos filmes mais marcantes do percurso de Pietrangeli e um daqueles em que as personagens femininas têm mais importância. Na sequência de uma lei que impôs o fecho das casas de prostituição, quatro amigas decidem continuar a exercer a profissão clandestinamente e, para tanto, abrem uma trattoria como “fachada”. Rapidamente percebem que este trabalho pode dar-lhes satisfação e bem-estar e cortam com o passado. Mas um proxeneta tenta obrigá-las a voltar à antiga prostituição. Isto leva-as a destruir inteiramente o local, mas “esta destruição não abre nenhuma porta, apenas cria desorientação” (Neva Cerantola).

A sessão repete no dia 4 às 19h30, na sala Luís de Pina.

consulte a FOLHA da CINEMATECA aqui
04/04/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

em colaboração com a 18ª Festa do Cinema Italiano
Fantasmi A Roma
Fantasmas em Roma
de Antonio Pietrangeli
com Marcello Mastroianni, Sandra Milo, Vittorio Gassman
Itália, 1961 - 100 min
legendado eletronicamente em português | M/12
FANTASMI A ROMA é uma melancólica comédia sobre um palacete romano habitado pelos fantasmas dos seus antigos proprietários, mobilizados contra um jovem especulador imobiliário que pretende transformar o edifício num hotel. Quando o filme foi apresentado pela primeira vez na Cinemateca, Luís Miguel Oliveira assinalou que “Pietrangeli cria habilmente uma belíssima atmosfera, com fabulosas contribuições da fotografia de Giuseppe Rotunno – há planos e mesmo cenas inteiras cujo sentido nasce por completo dos efeitos de iluminação”, definindo-o ainda como “um filme que olha para os “novos tempos” com uma amargura que nunca chega a ser ‘reacionária’”.

A sessão repete no dia 10 às 19h30, na sala Luís de Pina.

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04/04/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

em colaboração com a 18ª Festa do Cinema Italiano
Adua e Le Compagne
de Antonio Pietrangeli
com Simone Signoret, Marcello Mastroianni, Sandra Milo, Emmanuelle Riva
Itália, 1960 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12
ADUE E LE COMPAGNE é um dos filmes mais marcantes do percurso de Pietrangeli e um daqueles em que as personagens femininas têm mais importância. Na sequência de uma lei que impôs o fecho das casas de prostituição, quatro amigas decidem continuar a exercer a profissão clandestinamente e, para tanto, abrem uma trattoria como “fachada”. Rapidamente percebem que este trabalho pode dar-lhes satisfação e bem-estar e cortam com o passado. Mas um proxeneta tenta obrigá-las a voltar à antiga prostituição. Isto leva-as a destruir inteiramente o local, mas “esta destruição não abre nenhuma porta, apenas cria desorientação” (Neva Cerantola).

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04/04/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

em colaboração com a 18ª Festa do Cinema Italiano
Amori di Mezzo Secolo
de Antonio Pietrangeli, Glauco Pellegrini, Pietro Germi, Mario Chiari, Roberto Rossellini, Vinicio Marinucci
com Carlo Campanini, Lea Padovani, Andrea Checchi
Itália, 1954 - 94 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Alteração à Programação
Os espectadores que já tenham adquirido bilhete para as sessões de LA PARMIGINA poderão trocá-lo ou solicitar o reembolso na Bilheteira.
Um filme em episódios sobre amores infelizes do qual Pietrangeli realizou o penúltimo, GIRANDOLA 1910, que traz uma nota cómica ao conjunto da narrativa. Um homem sente-se mal durante um encontro com a amante e consulta o seu médico, que aconselha que diminua o ritmo dos seus encontros amorosos, mas o homem promete-lhe uma condecoração, em troca do médico aconselhar repouso absoluto à sua esposa, para que ele possa ver a amante em paz. O filme não foi muito bem recebido à época pela crítica italiana, mas Antonio Maraldi considera-o “um conto brilhante, que nada tem de vulgar e pode ser visto como uma espécie de homenagem ao Max Ophuls de LA RONDE, um carrocel amoroso à Feydeau”. Primeira exibição na Cinemateca, com exceção do episódio NAPOLI 43, de Rossellini.

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05/04/2025, 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Antonio Pietrangeli, Esse Desconhecido

em colaboração com a 18ª Festa do Cinema Italiano
La Visita
Anúncio de Casamento
de Antonio Pietrangeli
com Sandra Milo, François Périer, Mario Adorf
Itália, 1963 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12
LA VISITA é o segundo capítulo do chamado “tríptico feminino” da obra de Pietrangeli (os outros dois são LA PARMIGIANA e IO LA CONOSCEVO BENE), mas a protagonista tem cerca de quinze anos a mais do que as personagens dos outros filmes. Baseado num argumento de Giuseppe De Santis, o filme conta-nos a relação epistolar de uma mulher que vive numa pequena cidade de província com um livreiro romano, que sonha com um casamento, até ao dia em que a encontra. Alberto Moravia, que à época considerou LA VISITA como o melhor filme de Pietrangeli, notou que este “percebeu que um filme inteiramente baseado no estudo de duas personalidades necessitava dois atores que fossem realmente bons. Sandra Milo dá-nos uma interpretação ao mesmo tempo caprichosa e realista. François Périer, com o jogo da sua fisionomia, ao mesmo tempo mutável e controlada, não poderia ser melhor”.

A sessão repete no dia 14 às 16h30, na sala M.Félix Ribeiro.

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