CICLO
Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções


A história do cinema brasileiro confunde-se com a de Luiz Carlos e Lucy Barreto. Se “uma câmara na mão e uma ideia na cabeça” caracterizam o Cinema Novo brasileiro, foi Luiz Carlos Barreto um dos maiores responsáveis por reunir as condições necessárias para que essa visão minimalista e revolucionária se legitimasse para além de um manifesto, tornando-o uma realidade expressiva e potente que revelava as contradições e a complexidade do Brasil da época.
O início da carreira do produtor como jornalista e fotógrafo na revista Cruzeiro foi crucial para se aproximar de realizadores emergentes do Cinema Novo, como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha. Foi através desta cadeia de relações que se viria a estrear como argumentista de O ASSALTO AO TREM PAGADOR (1962), cujo sucesso comercial abriu portas para que este se tornasse diretor de fotografia e produtor de filmes como VIDAS SECAS e TERRA EM TRANSE, ambos incluídos neste ciclo, que tanto ajudaram a cimentar a posição do movimento no panorama global, como a definir o apelido Barreto como sinónimo de produção de cinema no Brasil. O realizador Carlos Diegues falou da casa de Lucy e Luiz Carlos Barreto enquanto um “ponto de encontro, um espaço onde não só se trabalhava, mas também se sonhava e planeava o futuro do cinema brasileiro”. Com certeza terá partido daí a motivação para fundar, em 1963, juntamente com Lucy Barreto, a L.C. Barreto Produções Cinematográficas, que entre produções e coproduções conta com uma filmografia que ultrapassa os 150 títulos e onde o casal se mantém ativo até hoje.
A Cinemateca lembra o legado da família Barreto, evidenciando não apenas a importância histórica de Lucy e Luiz Carlos, mas também a continuidade desta herança pelas mãos dos seus filhos: Bruno Barreto, destacou-se internacionalmente como realizador de DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS (1976), um dos maiores sucessos comerciais do cinema brasileiro; Fábio Barreto realizou O QUATRILHO (1995), que foi nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; e Paula Barreto que tomou entretanto as rédeas da produtora. A diversificação de géneros e o olhar atento ao mercado internacional foram prioritários, e continuam a sê-lo, procurando expandir as fronteiras do cinema brasileiro para além dos seus temas tradicionais, apostando em obras que conciliam a crítica social com a linguagem popular, mantendo a filosofia da sua génese.
O Ciclo que aqui se apresenta – composto por restauros digitais realizados pela produtora – celebra os 60 anos de trabalho desta família que soube reinventar-se ao longo das décadas. Como disse a atriz Sonia Braga, “há um cinema brasileiro antes e depois dos Barreto”.
 
 
06/11/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções

O Quatrilho
de Fábio Barreto
Brasil, 1995 - 92 min
 
07/11/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções

Dona Flor e os Seus Dois Maridos
de Bruno Barreto
Brasil, 1976 - 110 min
08/11/2024, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções

Bye Bye Brasil
de Carlos Diegues
Brasil, 1980 - 100 min
08/11/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções

Garrincha, Alegria Do Povo
de Joaquim Pedro de Andrade
Brasil, 1962 - 60 min
09/11/2024, 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções

Terra Em Transe
de Glauber Rocha
Brasil, 1967 - 105 min
06/11/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções
O Quatrilho
de Fábio Barreto
com Glória Pires, Patricia Pillar, Alexandre Paternost, Julia Barreto
Brasil, 1995 - 92 min
legendado em inglês | M/12
com a presença de Julia Barreto
Candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1996, O QUATRILHO foi feito com um olho no mercado internacional e no arranque da “retomada” do cinema brasileiro após o deserto dos anos da presidência Collor de Mello. O título faz alusão a um jogo de cartas em que os quatro jogadores devem fazer batota para ganhar. A história, situada no sul do Brasil, começa em 1910, período em que a imigração italiana era forte na região e segue a história de dois casais, o “quatrilho” do título.

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07/11/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções
Dona Flor e os Seus Dois Maridos
de Bruno Barreto
com Sonia Braga, José Wilker, Mauro Mendonça
Brasil, 1976 - 110 min
legendado em inglês | M/12
Imenso sucesso comercial no brasil e internacionalmente, esta adaptação do romance homónimo de Jorge Amado fez de Sonia Braga uma vedeta. Filho de Luiz Carlos Barreto, Bruno Barreto, então com apenas 20 anos, optou por um cinema perfeitamente “limpo” e decorativo para contar a história da “bigamia” de uma mulher que vive ao mesmo tempo com o seu bem comportado marido e com o fantasma do irreverente e falecido primeiro marido.

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08/11/2024, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções
Bye Bye Brasil
de Carlos Diegues
com José Wilker, Betty Faria, Fábio Jr.
Brasil, 1980 - 100 min
legendado em inglês | M/12
Utilizando o circo enquanto metáfora para o cinema, na forma de “Caravana Rollidei” - e na citação de O ÉBRIO, de Gilda de Abreu – BYE BYE BRASIL apresenta uma reflexão sobre formas de entretenimento que já não convidam ninguém. Quem lhes ficou com o lugar? A televisão. Neste roadmovie de abordagem documental, Salomé, Lorde Cigano e Andorinha deparam-se não apenas com a modernização tecnológica, mas também com as transformações sociais e económicas de um Brasil em mudança. À data da sua estreia o The New York Times escreveu que este era “um inventário psicológico de um país à beira de um desenvolvimento económico e industrial extraordinário, um relato de viagem através de uma nação que ainda não existe”, mas talvez quem tenha razão seja João Benárd da Costa quando disse que, talvez, no século XXI, este filme só apareça como nostálgico produto de outras eras.

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08/11/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções
Garrincha, Alegria Do Povo
de Joaquim Pedro de Andrade
Brasil, 1962 - 60 min
legendado em inglês | M/12
“Só sei fazer cinema no Brasil, só sei falar de Brasil, só me interessa o Brasil” terá dito Joaquim Pedro de Andrade, não fosse este uma figura central do Cinema Novo Brasileiro. Feito principalmente a partir de imagens de arquivo – algumas da autoria de Luiz Carlos Barreto – este documentário, que trata o futebol como um fenómeno social, acompanha Mané Garrincha, lendário jogador da seleção brasileira que se caracterizava por ter as pernas tortas e cujo declínio começou pouco depois da estreia deste filme. Nas palavras de Glauber Rocha, GARRINCHA, ALEGRIA DO POVO poderia definir-se como “um cinema de autor realizado numa expressão técnico-estética, em que ideia e mise-en-scène significam um corpo ativo de realismo crítico.”

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09/11/2024, 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Isso é Brasil: 60 Anos da L. C. Barreto Produções
Terra Em Transe
de Glauber Rocha
com Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce Rocha
Brasil, 1967 - 105 min
legendado em inglês | M/12
“Filme admirável, negro poema, TERRA EM TRANSE mostra como se fazem e se desfazem, no ‘terceiro mundo europeu’, as ditaduras tropicais”, escreveu à época Marguerite Duras. Longe do sertão e dos cangaceiros, inteiramente situada no Rio de Janeiro, a terceira longa-metragem de Glauber Rocha é sem dúvida o mais “cinematográfico” dos seus filmes. O protagonista é um jornalista que oscila entre um potencial tirano de esquerda e um potencial tirano de direita. Começando pela agonia do protagonista, o filme desenrola-se num longo flashback, numa montagem fragmentada, mas absolutamente coerente.

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