Coreógrafa, bailarina e cineasta norte-americana, que se tem afirmado como uma figura pioneira do movimento de vanguarda desde os anos 1960, Yvonne Rainer é autora de uma obra multifacetada que tem desenvolvido ao longo de mais de cinco décadas. Nascida em São Francisco em 1934, vive e trabalha em Nova Iorque, cidade onde desenvolveu grande parte da sua obra marcada por um forte experimentalismo, que cruza tendências e movimentos que dominaram a arte contemporânea, como o minimalismo nas suas várias formas, da música às artes plásticas, desafiando cânones e convenções para explorar formas e temas política e socialmente subversivos, primeiro na dança e mais tarde no cinema. Próxima de coreógrafos como Martha Graham ou Merce Cunningham, com quem estudou, ou músicos como John Cage, é sob a sua influência que começa a coreografar na transição para os anos sessenta, começando a dedicar-se ao cinema uma década depois. Considerada uma das mais influentes performers do século XX ficarão para a História várias das suas peças, mas também os filmes, onde prolonga o seu trabalho.
Em setembro, numa colaboração com Festival Queer Lisboa, poderemos ver na Cinemateca uma retrospetiva do seu trabalho como cineasta, a que se acrescentam dois documentários que lançam luz sobre a sua obra, FEELINGS ARE FACTS: THE LIFE OF YVONNE RAINER, de Jack Walsh, e RAINER VARIATIONS, de Charles Atlas. Filmes que nos ajudam a compreender o trabalho com o corpo por si desenvolvido enquanto coreógrafa que desde cedo rompeu com as formas mais clássicas, para olhar para os mais simples gestos quotidianos, que Rainer desenvolveu sobretudo nos palcos e na dança, em contraste com uma preocupação mais psicologista que explorará no cinema. O programa inclui as sete longas-metragens que Rainer realizou entre 1972 e 1996, ficando de fora as suas primeiras curtas-metragens que de algum modo acompanharam a progressiva incorporação das imagens filmadas nas suas peças dançadas. São todos eles filmes extremamente singulares avessos aos tradicionais esquemas narrativos que, cruzando a ficção e a autobiografia, versam sobre questões tão diversas e prementes como o envelhecimento, a identidade sexual, o terrorismo, as relações amorosas, a psiquiatria, ou o feminismo, em que o corpo dos atores e a sua presença têm um papel essencial. Como a própria Yvonne Rainer afirmou: “Fiz a transição da coreografia para o cinema entre 1972 e 1975. Num sentido geral a minha crescente consciência feminista foi um fator importante. Um estímulo igualmente urgente foram as crescentes mudanças físicas no meu corpo a envelhecer.” Todos os filmes são apresentados em suporte digital, resultando de restauros recentes realizados pelo MoMA, com o apoio da The Celeste Bartos Fund for Film Preservation, e distribuídas pela Zeitgeist Film em parceria com a Kino Lorber, e são primeiras apresentações na Cinemateca.