CICLO
Jean-Luc Godard, para Sempre


Uma revista francesa (Les Inrockuptibles) não teve pruridos: no seu número seguinte à morte de Jean-Luc Godard, sucedida em setembro passado, a manchete dizia, simplesmente, “Dieu est mort”, “Deus morreu”. Que importa o exagero, se o exagero é só uma forma de fazer justiça à importância, das pessoas ou das coisas. E Godard foi, de facto, a pessoa mais importante, o autor das coisas mais importantes, de todo o cinema da segunda metade do século XX em diante. Importa o seu trabalho, e importa o olhar (divino, dir-se-ia, usando vocabulário dos Inrocks) que ele, através do trabalho mas também além dele, lançava sobre o cinema, sobre o mundo, sobre a nossa História, sobre a “nossa música”. Há um capítulo que se fecha na história do cinema com a morte de Godard, que é também o da presença – como ele notou – da geração que viveu “o meio do século XX”, “o meio do cinema”. O que isto quer dizer está estampado na obra dele, um radical “transporte” entre a mais sofisticada modernidade (tecnológica, inclusive) e a memória de um cinema “inicial”, tanto em termos puramente cinéfilos e afetivos como no que diz respeito a uma prática, artesanal e realista, em permanente reflexão sobre ela própria e sobre o seu lugar num mundo sempre em mudança demasiado rápida. A homenagem que lhe prestamos porá isso em evidência, julgamos, ao trazer exemplos de todas as fases da obra do autor, desde os alvores da nouvelle vague ao filme – quase – derradeiro que foi LE LIVRE D’IMAGE. É um passeio por alguns recantos menos visitados do legado de Godard, um vislumbre da riqueza inesgotável desse legado, que ficará connosco – para sempre.
 
 
25/01/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Je Vous Salue Marie
Eu vos Saúdo Maria
de Jean-Luc Godard
França, 1984 - 110 min
 
25/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Ici et Ailleurs
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
França, 1976 - 54 min
25/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Les Trois Désastres | Adieu au Langage
duração total da projeção: 92 min
26/01/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Puissance de la Parole | Nouvelle Vague
duração total da projeção: 114 min
26/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Le Livre d’Image
O Livro de Imagem
de Jean-Luc Godard
França, 2018 - 84 min
25/01/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Je Vous Salue Marie
Eu vos Saúdo Maria
de Jean-Luc Godard
com Myriem Roussel, Thierry Rode, Juliette Binoche
França, 1984 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma recriação contemporânea da história da natividade, ou uma maneira alusiva de filmar a relação entre o mundo moderno e o sagrado. JE VOUS SALUE MARIE provocou mais “escândalo” que o resto da obra de Godard toda junta, mas o seu propósito era tudo menos blasfemo: uma espécie de ensaio sobre a possibilidade de reconhecimento de uma dimensão sagrada da existência humana num mundo que aparentemente voltou costas a essa dimensão. A apresentar em cópia digital. 

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25/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Jean-Luc Godard, para Sempre
Ici et Ailleurs
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
com Jean-Pierre Bamberger
França, 1976 - 54 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Rushes de um filme inacabado sobre a resistência palestiniana, rodado quatro anos antes sob a égide do grupo Dziga Vertov, são mostradas a um casal que, diante do televisor, recorda a sua experiência passada durante os anos de militância. Uma obra raramente exibida, que toca uma questão sensível e que aborda o modo como se organizam aqui (“ici”) imagens que foram registadas algures (“ailleurs”). Filme sobre um conflito, é antes de mais uma reflexão sobre a própria televisão. A apresentar em cópia digital.

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25/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Les Trois Désastres | Adieu au Langage
duração total da projeção: 92 min
legendados em português | M/12 
LES TROIS DÉSASTRES
de Jean-Luc Godard
Portugal, Suíça, 2012 – 22 min

ADIEU AU LANGAGE
Adeus à Linguagem
de Jean-Luc Godard
com Héloise Godet, Kamel Abdeli, Richard Chevallier
França, 2014 – 70 min

“A ideia é simples: uma mulher casada e um homem solteiro encontram-se. Amam-se, discutem, separam-se. Um cão erra entre a cidade e o campo. As estações passam. O homem e a mulher encontram-se outra vez. O cão entre eles. O outro é um. Um é o outro. São três.” (Jean-Luc Godard). No fim de ADIEU AU LANGAGE, a longa-metragem em que Godard (re)inventa o 3D segundo as contemporâneas possibilidades tecnológicas digitais, um filme “do fim de tudo”, é o cão que fica, talvez, “a sonhar com as ilhas Marquesas”. Realizado por encomenda de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura (e integrando o filme de conjunto 3x3D, ao lado de segmentos dirigidos por Edgar Pêra e Peter Greenaway), LES TROIS DÉSASTRES é um balão de ensaio para ADIEU AU LANGAGE, com Godard a experimentar a imagem tridimensional. É o filme onde se diz que “o digital será uma ditadura”.  LES TROIS DÉSASTRES é primeira apresentação na Cinemateca.

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26/01/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Puissance de la Parole | Nouvelle Vague
duração total da projeção: 114 min
legendados eletronicamente em português | M/12
PUISSANCE DE LA PAROLE
de Jean-Luc Godard
com Jean Bouise, Lydia Andrei, Jean-Michel Iribarren
França, 1988 - 25 min

NOUVELLE VAGUE
Nouvelle Vague
de Jean-Luc Godard
com Alain Delon, Domiziana Giordano
França, 1990 - 89 min

Um dos vídeos mais famosos de Godard, PUISSANCE DE LA PAROLE resultou de uma encomenda da France Télécom. A partir de um texto de Poe sobre o poder das palavras, Godard aborda a perpétua reverberação das nossas palavras no Universo, no que é também uma maneira de abordar a questão das relações entre o Humano e o Divino – tema a que Godard voltaria. NOUVELLE VAGUE é uma das obras-primas absolutas de Jean-Luc Godard, magistral teia de corpos e formas, cores e sons, textos e vozes. Alain Delon é filmado como nunca ninguém o filmou numa história de eterno retorno: de palavras, de seres, de sentimentos. “História eterna da história que se repete. A história das mulheres apaixonadas e dos homens solitários (…) A história do indivíduo condenado a ser múltiplo” (Jean-Luc Douin).

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26/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Le Livre d’Image
O Livro de Imagem
de Jean-Luc Godard
França, 2018 - 84 min
legendado em português | M/12
“Ainda te lembras de como antes exercitávamos o pensamento? Costumávamos partir de um sonho. Perguntávamo-nos como era possível que, na obscuridade total, em nós surgissem cores de tal intensidade. Diziam-se grandes coisas, coisas importantes, espantosas, profundas e justas, num tom de voz doce e baixo. Imagem e palavra. Dir-se-ia um pesadelo escrito numa noite de tempestade. Sob os olhos do Ocidente, os paraísos perdidos. A guerra aí está.” O texto é o da sinopse do filme que regressa a uma reflexão sobre o cinema e o estado do mundo a partir da matéria das imagens e dos sons. A voz do narrador é a de Jean-Luc Godard, que compôs o seu filme em cinco capítulos, como os cinco dedos de uma mão, e afirma – “a verdadeira condição do homem: pensar com as suas mãos”. “Remakes” (uma história de guerras e catástrofes que se repetem); “As Noites de São Petersburgo”; “Estas flores entre os trilhos, no vento confuso das viagens” (a partir de Rilke); “O espírito das leis” (evocando Montesquieu); “A Região Central” (como o título do filme de 1971 de Michael Snow). “Dizer que o LIVRO DE IMAGEM é de uma grande coragem e sem precedentes é uma platitude. Mas é o meu sentimento” (Bernard Eisenschitz, numa carta a Jean-Luc Godard publicada no material de imprensa).

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