CICLO
Jean-Luc Godard, para Sempre


Uma revista francesa (Les Inrockuptibles) não teve pruridos: no seu número seguinte à morte de Jean-Luc Godard, sucedida em setembro passado, a manchete dizia, simplesmente, “Dieu est mort”, “Deus morreu”. Que importa o exagero, se o exagero é só uma forma de fazer justiça à importância, das pessoas ou das coisas. E Godard foi, de facto, a pessoa mais importante, o autor das coisas mais importantes, de todo o cinema da segunda metade do século XX em diante. Importa o seu trabalho, e importa o olhar (divino, dir-se-ia, usando vocabulário dos Inrocks) que ele, através do trabalho mas também além dele, lançava sobre o cinema, sobre o mundo, sobre a nossa História, sobre a “nossa música”. Há um capítulo que se fecha na história do cinema com a morte de Godard, que é também o da presença – como ele notou – da geração que viveu “o meio do século XX”, “o meio do cinema”. O que isto quer dizer está estampado na obra dele, um radical “transporte” entre a mais sofisticada modernidade (tecnológica, inclusive) e a memória de um cinema “inicial”, tanto em termos puramente cinéfilos e afetivos como no que diz respeito a uma prática, artesanal e realista, em permanente reflexão sobre ela própria e sobre o seu lugar num mundo sempre em mudança demasiado rápida. A homenagem que lhe prestamos porá isso em evidência, julgamos, ao trazer exemplos de todas as fases da obra do autor, desde os alvores da nouvelle vague ao filme – quase – derradeiro que foi LE LIVRE D’IMAGE. É um passeio por alguns recantos menos visitados do legado de Godard, um vislumbre da riqueza inesgotável desse legado, que ficará connosco – para sempre.
 
 
09/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Deux ou Trois Choses que Je Sais d’Elle
de Jean-Luc Godard
França, 1967 - 97 min
 
10/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

La Chinoise
de Jean-Luc Godard
França, 1967 - 97 min
11/01/2023, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Le Gai Savoir
de Jean-Luc Godard
França, 1969 - 92 min
12/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Numéro Deux
de Jean-Luc Godard
França, 1975 - 86 min
13/01/2023, 19h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Ici et Ailleurs
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
França, 1976 - 54 min
09/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Deux ou Trois Choses que Je Sais d’Elle
de Jean-Luc Godard
com Marina Vlady, Anny Duperey, Roger Montsoret
França, 1967 - 97 min
legendado eletronicamente em português | M/16
O trailer de apresentação do filme diz: “Ouçam em silêncio duas ou três coisas que sei dela. Ela, a crueldade do neo-capitalismo. Ela, a prostituição. Ela, a região à volta de Paris. Ela, a morte da beleza moderna. Ela, a Gestapo das estruturas”. Este é um filme que de certa forma prenuncia o futuro trabalho de Godard, nos anos 70. Através da história de uma pequeno-burguesa dos subúrbios de Paris, que se prostitui ocasionalmente para satisfazer as suas “necessidades” de consumo, Godard faz uma análise fria dos mecanismos da sociedade moderna. Mas a esta análise, Godard contrapõe a falsa sedução de um mosaico de imagens a cores e em scope, num verdadeiro compêndio da iconografia dos anos 60. A apresentar em cópia digital.

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10/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
La Chinoise
de Jean-Luc Godard
com Jean-Pierre Léaud, Anne Wiazemsky, Juliet Berto, Michel Semeniako
França, 1967 - 97 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Subtitulado “ou antes, à chinesa, um filme que está a ser feito”, LA CHINOISE mostra-nos quatro jovens fechados num apartamento parisiense, durante as férias de verão, que estudam o pensamento do Camarada Mao, cujo “livrinho vermelho” era então um best seller na Europa. Filme da palavra, ao mesmo tempo sério e satírico, LA CHINOISE também ilustra as grandes qualidades plásticas do cinema de Godard, sobretudo no uso da cor. Politicamente premonitório (foi realizado um ano antes de Maio de 68), o filme também é um prenúncio do itinerário que tomaria Godard nos anos 70, quando ele pareceu levar a sério o que diziam as personagens deste filme e tentou pô-lo em prática. A apresentar em cópia digital.

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11/01/2023, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Le Gai Savoir
de Jean-Luc Godard
com Jean-Pierre Léaud, Juliet Berto
França, 1969 - 92 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Émile tenta forçar as portas da Universidade guardadas pelo exército, Patricia, por seu lado, distribui gravadores de bolso numa fábrica, para que os operários possam registar todas as incongruências do discurso do patronato. Num estúdio de cinema, Émile e Patricia comentam as imagens e sons da “luta de classes”, conferindo-lhes novos sentidos, e assim procurando “fazer voltar contra o inimigo a arma com que ele ataca: a linguagem”. Um importante ensaio sobre o poder das palavras e a sua relação com as imagens, e outro prenúncio do trabalho de Godard no seio do Grupo Dziga Vertov. A apresentar em cópia digital.

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12/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Numéro Deux
de Jean-Luc Godard
com Sandrine Battistella, Pierre Oudry, Alexandre Rignault, Rachel Stefanol
França, 1975 - 86 min
legendado eletronicamente em português | M/16
NUMÉRO DEUX aborda as relações de poder estabelecidas no seio de uma família no interior de um moderno apartamento. Assentando na justaposição e sobreposição de imagens que apelam a uma pluralidade de leituras, é uma experiência única na obra de Godard, antecipando os seus trabalhos futuros em vídeo. O mestre (Ray, por esta altura embrenhado no “experimentalismo” de WE CAN’T GO HOME AGAIN) e o discípulo (Godard) a colocarem-se, ao mesmo tempo e sem que um soubesse do outro, questões formais semelhantes. Ou ainda: o “clássico” e o “moderno” em linhas paralelas na invenção/preparação de um “pós-cinema”. A apresentar em cópia digital.

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13/01/2023, 19h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Ici et Ailleurs
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
com Jean-Pierre Bamberger
França, 1976 - 54 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Rushes de um filme inacabado sobre a resistência palestiniana, rodado quatro anos antes sob a égide do grupo Dziga Vertov, são mostradas a um casal que, diante do televisor, recorda a sua experiência passada durante os anos de militância. Uma obra raramente exibida, que toca uma questão sensível e que aborda o modo como se organizam aqui (“ici”) imagens que foram registadas algures (“ailleurs”). Filme sobre um conflito, é antes de mais uma reflexão sobre a própria televisão. A apresentar em cópia digital.

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