CICLO
Do Outro Lado do Espelho


A  passagem para o outro lado do espelho, seja ele representado como um mundo abstrato e onírico, como acontece em LE SANG D’UN POÈTE, de Jean Cocteau, seja uma representação do inferno e do reino dos mortos, como em ORPHÉE, ou seja ainda uma realidade como a descrita pelo grande clássico da literatura de Lewis Carroll, tantas vezes adaptado ao cinema, é sempre uma viagem para um mundo paralelo.
O filme que assombra e está na base deste Ciclo é uma dessas versões de Alice, tantas vezes visto e revisto em criança, filme mudo projetado em Super8, que tão magicamente retratava a passagem de Alice para o outro lado do espelho. Não está cá este filme, mas está a versão da Disney, em que Alice contempla o seu reflexo na água. Por outro lado, também não está a primeira longa-metragem produzida por esses mesmos estúdios, mas está o BRANCA DE NEVE de João César Monteiro.
Entre “clássicos” e algumas raridades – vários títulos de cariz mais experimental, em que se inclui um núcleo de filmes de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, inéditos na Cinemateca –, este programa composto por vinte e sete sessões, mas necessariamente muito incompleto, dada a extensão e o poder deste motivo, dá conta de múltiplas aceções e de usos do espelho no cinema, objeto que funciona como metáfora do próprio cinema, simultaneamente pelos espelhos que presidem à constituição de toda a câmara de filmar e pelos mundos paralelos que criam, reflexos do nosso próprio mundo, que estilhaçam ou desmultiplicam.
Se a imagem cinematográfica e a imagem especular podem ser confundidas, não é a mesma coisa pensar a realidade e o seu reflexo. A perturbação que se sente diante dessa imagem invertida é fonte de tantas histórias fantásticas e de uma inquietante estranheza, de tantos regressos ao passado e de saltos no espaço e no tempo, como provam estes e muitos outros filmes em que os espelhos e as superfícies espelhadas, nas suas múltiplas aceções, têm um papel essencial.
 
 
26/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

Mirror World | Written On The Wind
duração total de projeção: 110 minutos | M/12
 
27/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

The Circus
O Circo
de Charles Chaplin
Estados Unidos, 1927 - 72 min | M/6
29/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

Alice In Wonderland
Alice no País das Fadas
de Clyde Geronimi, Hamilton Luske, Wilfred Jackson
Estados Unidos, 1951 - 74 min
29/08/2022, 21h45 | Esplanada
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

Madame De…
Madame De…
de Max Ophuls
França, 1953 - 96 min
30/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

Parte I - Filmes de João Maria Gusmão e Pedro Paiva | Parte II - Apropriação, Manipulação
duração total de projeção: 64 minutos | M/12
26/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Outro Lado do Espelho
Mirror World | Written On The Wind
duração total de projeção: 110 minutos | M/12
AVISO: WRITTEN ON THE WIND é exibido em substituição de JALSAGHAR/“O SALÃO DE MÚSICA”, de Satyajit Ray, cuja projeção teve que ser cancelada pois o atual detentor dos direitos do filme para Portugal não autoriza a sua exibição.
MIRROR WORLD
de Abigail Child
Estados Unidos, 2006 – 12 min / legendado eletronicamente em português

WRITTEN ON THE WIND
Escrito no Vento
de Douglas Sirk
com Rock Hudson, Robert Stack, Lauren Bacall, Dorothy Malone
Estados Unidos, 1956  – 98 min / legendado eletronicamente em português

Uma sessão introduzida por MIRROR WORLD, trabalho experimental de Abigail Child que prolonga as estratégias de apropriação bem presentes numa outra sessão deste programa. A reflexão e a refração são aqui usadas para uma reconfiguração de um admirável clássico do cinema de Bollywood, AAN / PRESTÍGIO REAL (1953), de Mehboob Khan. Com Sirk, realizador que encontra nos espelhos um dos seus motivos favoritos, o melodrama desloca-se para outro Continente. WRITTEN ON THE WIND é "uma temporada no inferno do Deep South", como o definiu um crítico francês, e é o mais delirante e apocalíptico filme de toda a obra de Sirk. O delírio manifesta-se tanto ao nível da  narrativa, como da realização. Cores anti-naturalistas e cenários super-dimensionados banham esta história em que a ironia de Sirk em relação à cultura americana ("os americanos não vivem, imitam a vida") se manifesta na sua forma mais cáustica. Um dos monumentos do cinema americano dos anos 50, cujo plano final é o mais célebre de toda a obra de Sirk. MIRROR WORLD é exibdo em cópia digital.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de MIRROR WORLD aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de WRITTEN ON THE WIND aqui

 
27/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Outro Lado do Espelho
The Circus
O Circo
de Charles Chaplin
com Charles Chaplin, Allan Garcia, Merna Kennedy
Estados Unidos, 1927 - 72 min | M/6
mudo, intertítulos em inglês, legendado em português | M/6
Charlot, o vagabundo, vai trabalhar num circo por acaso e torna-se uma vedeta. Como o título e o argumento o indicam, THE CIRCUS é uma homenagem ao circo pelo mais sublime palhaço de todos os tempos. Estranha e injustamente, esta obra de maturidade nunca foi considerada uma das maiores obras-primas de Chaplin. E no entanto, na opinião de Jean Mitry, autor de um clássico estudo sobre Chaplin, “de todos os grandes filmes de Charlot, THE CIRCUS talvez seja o mais equilibrado. A sua construção é rigorosa, tem um movimento ascendente e cai bruscamente no final”. Um dos momentos mais sublimes é aquele em que Chaplin aterra num labirinto de espelhos. A exibir em cópia digital.

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29/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Outro Lado do Espelho
Alice In Wonderland
Alice no País das Fadas
de Clyde Geronimi, Hamilton Luske, Wilfred Jackson
com Kathryn Beaumont, Ed Wynn, Richard Haydn, Sterling Holloway (vozes)
Estados Unidos, 1951 - 74 min
versão dobrada em português do Brasil | M/6
São hoje muitas as adaptações ao cinema do grande clássico da literatura de Lewis Carroll, mostrando nós neste Ciclo de espelhos a da Disney. Numa tarde de sol Alice confronta-se com o seu reflexo e avista o célebre Coelho Branco, que desaparece enfiando-se furtivamente numa toca ali perto. Alice vai atrás dele e cai no buraco, uma mágica entrada para o País das Maravilhas. Canções memoráveis entram na viagem de Alice, que culmina num encontro com a Rainha de Copas e o seu exército de cartas de jogar.

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29/08/2022, 21h45 | Esplanada
Do Outro Lado do Espelho
Madame De…
Madame De…
de Max Ophuls
com Danielle Darrieux, Charles Boyer, Vittorio de Sica
França, 1953 - 96 min
legendado em português | M/12
Esta obra-prima de Ophuls forma como que uma trilogia com dois outros filmes do realizador sobre amores femininos fracassados, LIEBELEI e LETTER FROM AN UNKNOWN WOMAN, dos quais são retomadas algumas situações idênticas. Baseado num romance de Louise de Vilmorin e situado em fins do século XIX, o filme conta a história de um triângulo amoroso e de um par de brincos oferecidos pelo marido à mulher, que os vende e, mais tarde, os recebe como prenda do amante, que de nada sabia. Um filme barroco de superfícies espelhadas.  A exibir em cópia digital.

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30/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Outro Lado do Espelho
Parte I - Filmes de João Maria Gusmão e Pedro Paiva | Parte II - Apropriação, Manipulação
duração total de projeção: 64 minutos | M/12
PARTE I - FILMES DE JOÃO MARIA GUSMÃO E PEDRO PAIVA
THE THROW 1 
THE THROW 2 
ESSAY ON A LIQUID SCULPTURE 
HEAT RAY 
DREAM OF A RAY FISH
3 SUNS
SOLAR, THE BLINDMAN EATING A PAPAYA
A DAY WITHOUT FILMING  
PROJECTOR (CAMERA TEST) 
de João Maria Gusmão, Pedro Paiva
Portugal, 2006-2016 – 21 minutos | 16mm, mudos

PARTE II - APROPRIAÇÃO, MANIPULAÇÃO 
GHOST IMAGE, VISUAL ESSAYS N°4
de Al Razutis
Canadá, 1976-1979 – 10 min / 16mm, som, sem legendas
THE GEORGETOWN LOOP
de Ken Jacobs 
Estados Unidos, 1997 – 11 min / 16mm, mudo 
LA PLAGE
de Patrick Bokanowski
França, 1991 – 14 min / 35mm, som, sem diálogos
MIRROR MECHANICS
de Siegfried Alexander Fruhauf 
Áustria, 2005 – 8 min / 35mm, som, sem diálogos 

João Maria Gusmão e Pedro Paiva iniciaram a sua colaboração em 2001 e durante duas décadas criaram um conjunto de curtas-metragens filmadas maioritariamente em 16mm que nos devolvem um mundo mudo ao ralenti, a que já chamaram “ficções poético-filosóficas”. Filmes que apontam para a complexidade dos mecanismos de produção de imagens e para mundos extraordinários que desafiam as leis da gravidade e contribuem para uma expansão da nossa perceção do real, onde os poderes das superfícies espelhadas nas suas várias vertentes estão bem presentes, de modo literal ou figurado: as propriedades reflexivas da água, a capacidade dos espelhos em estilhaçar o quadro, mas também as metáforas implícitas em filmes como HEAT RAY ou SOLAR, THE BLINDMAN EATING A PAPAYA. A segunda parte da sessão é votada a outras práticas experimentais em que a manipulação e apropriação de imagens estão bem presentes. Al Razutis, num dos seus conhecidos ensaios visuais interroga a tradição dos filmes fantásticos, revisitando clássicos conotados com o surrealismo, o expressionismo, o realismo poético e o próprio cinema de terror, mediante um princípio formal que consiste numa “imagem-espelho” que subverte o eixo do ecrã. Um procedimento semelhante enforma GEORGETOWN LOOP em que Ken Jacobs se apropria de um filme de 1905 que regista uma viagem de comboio através de montanhas rochosas, imprimindo lado a lado a imagem original e o seu duplo espelhado, produzindo um efeito caleidoscópico. Em MIRROR MECHANICS uma jovem olha-se ao espelho, situação que é desnaturalizada quando Fruhauf submete o material de base a transformações complexas, operações diferentes daquelas a que Patrick Bokanowski submete as suas imagens, que adquirem uma plasticidade própria. Primeiras exibições na Cinemateca com exceção de THE GEORGETOWN LOOP.

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