CICLO
Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias


Comparando os sonhos com os filmes, Jean Epstein escrevia, em L’Intelligence d’une machine (1946): “Um pormenor, em si mesmo mínimo e banal, é ampliado e repetido, tornando-se o centro e a força condutora de uma cena inteira tal como é sonhada ou vista no ecrã.” Acrescentamos: por vezes, esse pormenor mínimo pode ser um objeto bem identificado na intriga, conduzindo não somente uma cena mas o filme como um todo. Em suma, o objeto pode conter o mundo do filme como pode ser essa forma pregnante a partir da qual o tecido dramático se gera, floresce e degenera. Pode ser objeto de contenda mas também de desejo, pode fazer avançar a intriga ou detê-la num impasse de difícil resolução. Pode ser como uma chave e abrir portas ou pode ser como uma chave e trancar portas que não mais se querem abertas. Abrindo ou fechando, adensando enigmas ou desvendando-os de modo retumbante, os objetos que aqui homenageamos são quase sujeitos, pelo que não podem ser encarados como meros adereços, porque efetivamente atuam no tecido dramático do filme de maneira tão decisiva quanto às vezes violenta. De tal maneira assim é que, com o passar do tempo, poderá apenas restar na nossa memória a imagem de determinada coisa que, ampliada e/ou repetida na ação, se eleva como sujeito, mesmo como protagonista. Em 1982, num leilão organizado pela Sotheby’s, Steven Spielberg adquiriu por 55 000 dólares o trenó de CITIZEN KANE, o único de três a sobreviver ao fogo revelador que desfecha a obra de Orson Welles. Este não foi e não é um simples memento na história do cinema, como já assinalou o atual proprietário do trenó. Tal objeto guarda, isto é, contém o mundo do filme e da personagem que lhe dá nome e sendo uma coisa, também serve de metáfora à capacidade que o cinema tem de renovar aos nossos olhos, e no nosso imaginário, o seu máximo encantamento. Alguns objetos representam isso no mundo dos filmes: força condutora – quase religiosa – da ação, parte indissociável do seu mistério “sem chave”.
 
 
17/09/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias

Winchester ‘73
Winchester 73
de Anthony Mann
Estados Unidos, 1950 - 92 min
 
17/09/2021, 21h30 | Esplanada
Ciclo Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias

2001: A Space Odyssey
2001: Uma Odisseia no Espaço
de Stanley Kubrick
Estados Unidos, Reino Unido, 1968 - 150 min
18/09/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias

Ladri di Biciclette
Ladrões de Bicicletas
de Vittorio De Sica
Itália, 1947 - 90 min
24/09/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias

O Fio do Horizonte
de Fernando Lopes
Portugal, França, 1993 - 93 min
27/09/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias

The Glass Menagerie
Algemas de Cristal
de Paul Newman
Estados Unidos, 1987 - 134 min
17/09/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias
Winchester ‘73
Winchester 73
de Anthony Mann
com James Stewart, Shelley Winters, Dan Duryea, John McIntire, Stephen McNally, Millard Mitchell
Estados Unidos, 1950 - 92 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
O primeiro filme de Anthony Mann com James Stewart, numa série de cruzamentos das várias mitologias do western (as guerras índias, as cidades turbulentas, as grandes cavalgadas, os duelos). A história é a da perseguição que, ao longo de todo o Oeste, Stewart move ao seu meio-irmão, McNally, assassino do pai, e da rivalidade entre vários grupos à volta de uma das armas mais cobiçadas: a Winchester 73. Destaque para Dan Duryea, um truculento e extrovertido vilão, que tem uma das mais notáveis mortes no cinema.

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17/09/2021, 21h30 | Esplanada
Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias
2001: A Space Odyssey
2001: Uma Odisseia no Espaço
de Stanley Kubrick
com Keir Dullea, Gary Lockwood
Estados Unidos, Reino Unido, 1968 - 150 min
legendado em português | M/12
Um dos filmes mais influentes do cinema moderno, que revolucionou a ficção científica em 1968, com os efeitos especiais de Douglas Trumbull. Mas é também uma reflexão sobre o destino do homem, num futuro que requer outros saberes e capacidades. O gigantesco “totem” negro faz-nos aceder, como num ecrã, a um vasto universo de questões, dúvidas que este filme levanta em confronto com a evolução técnica do Homem e o mistério sem fim do cosmos e de Deus.

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18/09/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias
Ladri di Biciclette
Ladrões de Bicicletas
de Vittorio De Sica
com Lamberto Maggiorani, Lianella Carrelli, Enzo Staiola
Itália, 1947 - 90 min
legendado em português | M/6
O mais célebre filme de De Sica como realizador, emblemático da força do cinema italiano no imediato pós-guerra, muito imitado e nunca igualado. Através da trágica e comovente história de um homem que anda pelas ruas de Roma em companhia do filho, atrás da bicicleta que lhe roubaram e que é o seu instrumento de trabalho, De Sica retrata as dúvidas, dificuldades e esperanças de todo um país. Escreveu Manuel Cintra Ferreira que, neste filme, a obra-prima máxima de De Sica, o “’fait-divers’ adquire a forma de uma tragédia sobre a condição humana”.

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24/09/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias
O Fio do Horizonte
de Fernando Lopes
com Claude Brasseur, Andrea Ferreol, Ana Padrão
Portugal, França, 1993 - 93 min
versão francesa legendada eletronicamente em português | M/12
Nesta adaptação do romance de Antonio Tabucchi, Fernando Lopes revela-nos uma Lisboa escura e melancólica, à margem dos clichés e inspirada em Cesário Verde. Entre o thriller e o fantástico, O FIO DO HORIZONTE mostra-nos um homem, patologista de profissão, confrontado com a imagem da sua própria morte, sugerida, logo no começo, numa fotografia misteriosa que encontra na algibeira de um cadáver com quem partilha intrigantes parecenças físicas. A fotografia-enigma vai assombrar este homem enquanto percorre um labirinto que sobe em espiral, qual VERTIGO, e que promete apenas devolver-lhe a imagem da sua morte.

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27/09/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias de Objetos, Objetos nas Histórias
The Glass Menagerie
Algemas de Cristal
de Paul Newman
com Joanne Woodward, John Malkovich, Karen Allen, James Naughton
Estados Unidos, 1987 - 134 min
legendado em português | M/12
Um dos melhores trabalhos de Paul Newman como realizador e a terceira adaptação da peça homónima de Tennessee Williams ao cinema. Filme de interiores passado numa noite em que se dão importantes revelações no seio da família composta por uma filha “quebradiça” que coleciona pequenos animais em cristal (Karen Allen), a matriarca algo ditatorial (Joanne Woodward) e o filho inconformado (um John Malkovich em início de carreira). O drama intimista cristaliza-se numa, apenas numa imagem: a de um unicórnio em vidro que perdeu o corno depois de cair ao chão. A causa do acidente: a jovem mulher (Karen Allen) que nunca foi amada por um homem dança a valsa pela mão de um convidado especial (James Naughton). O menagerie familiar revela-se um espaço de uma raríssima e delicada beleza humana.

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